Foto: Governo do Estado de São Paulo

Caminhada, mesmo sem supervisão, melhora saúde cardiovascular de praticantes

Os resultados são de uma pesquisa feita com frequentadores do Parque Estadual da Água Branca, em São Paulo. Após alguns meses de prática, houve diminuição dos fatores de riscos para doenças cardiovasculares

Por Ivanir Ferreira

Arte: Rebeca Alencar/Jornal da USP

 20/12/2021 – Publicado há 2 anos     Atualizado: 22/12/2021 as 16:15

As doenças cardiovasculares são responsáveis por 19 milhões de mortes em todo o mundo e estão associadas a comportamentos de risco, como a inatividade física (dados da Organização Mundial da Saúde – OMS). Uma pesquisa da USP mostrou que hábitos simples, como fazer caminhadas em parques públicos, podem trazer mais saúde e bem-estar às pessoas. O projeto Exercício e Coração desenvolvido com frequentadores do Parque Fernando Costa, mais conhecido como Parque Estadual da Água Branca, na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, mostrou que caminhadas orientadas, mesmo quando realizadas sem a supervisão direta de um profissional de educação física, resultaram em aumento da capacidade física e diminuição dos fatores de riscos para doenças cardiovasculares, como a perda de peso, redução da circunferência da cintura e diminuição da pressão arterial.

Cláudia Forjaz, coordenadora do projeto e professora do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da EEFE-USP – Foto: Arquivo Pessoal

O projeto de extensão universitária Exercício e Coração, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP é coordenado pela professora Cláudia Forjaz, do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da EEFE, e a análise de dados desse estudo foi descrita em artigo publicado na revista Preventing Chronic Disease.

A pesquisadora explica ao Jornal da USP que a proposta do projeto é orientar e prescrever a prática segura de atividade física para frequentadores de locais públicos, como os parques, onde, em geral, a população se exercita sem a supervisão de profissionais qualificados. Tendo seu início em 2000, nos últimos dez anos, o projeto avaliou mais de 1.200 pessoas no parque, ministrou mais de 3.900 aulas de alongamento, participou de mais de 130 eventos, treinou mais de 120 monitores e publicou mais de 40 resumos e dez artigos científicos completos relacionados aos seus dados.

A dissertação de mestrado do pesquisador Bruno Temoteo Modesto, um dos autores do artigo e orientando da professora Cláudia, trouxe resultados concretos desta intervenção, referentes ao período de 2001 e 2015. A participação no programa era e ainda é gratuita e aberta a todos os usuários do parque. Dos cerca de 1.500 participantes do projeto neste período, 152 cumpriram os critérios do estudo, afirmaram terem seguido as orientações de caminhada realizada e foram reavaliados após 3 a 6 meses.

Caminhada de 30 minutos, três vezes por semana

Inicialmente, os voluntários da pesquisa (a maioria mulheres com 60 anos ou mais, com excesso de peso e circunferência de cintura elevada) passaram por uma avaliação que consistiu em entrevista sobre o estado de saúde e hábitos de fazer atividade física, além das medidas de aptidão cardiorrespiratória, circunferência da cintura, índice de massa corporal (IMC), pressão arterial, glicemia e colesterol.

Voluntário da pesquisa caminhando no Parque da Água Branca – Foto: Cláudia Forjaz

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Em seguida, receberam instruções individualizadas dos monitores do projeto do quanto e como deveriam caminhar. A ideia era que eles caminhassem três vezes por semana por, pelo menos, 30 minutos em uma intensidade moderada. Ou seja, os participantes deveriam caminhar o mais rápido que conseguissem sem ficar ofegantes e sendo capazes de falar uma frase longa sem precisar interrompê-la para respirar. Depois de realizar a atividade, deveriam fazer exercícios de alongamento. As primeiras sessões foram supervisionadas para garantir que a prática estava sendo feita corretamente.

Resultados

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As avaliações pós-intervenção foram feitas entre três e seis meses após o início das atividades. Os principais achados do estudo foram que o programa de intervenção proposto aumentou a aptidão física dos participantes, aumentando a capacidade cardiorrespiratória, que passou de 99 para 110 passos em 2 minutos; reduziu o IMC, de 26,3 para 26,1 kg/m2, diminuiu a circunferência da cintura, de 93,8 para 92,7 cm, e a pressão arterial sistólica (o maior valor verificado durante a medida da pressão arterial e que indica a força de contração do músculo cardíaco) de 126 para 123 mmHg. “Com o declínio desses índices, houve a diminuição do risco cardiovascular global dos participantes”, relatou a pesquisadora. Os níveis de glicose no sangue, a pressão arterial diastólica e os níveis de colesterol total permaneceram inalterados.

Espaços públicos como promoção da saúde

Para a professora Cláudia Forjaz, ao demonstrar que a orientação da prática de caminhada por profissionais habilitados, mesmo sem a supervisão da execução, promove benefícios expressivos na aptidão física e na saúde da população, este estudo demonstrou que a intervenção proposta é efetiva e aplicável em espaços públicos. “Esse tipo de intervenção possibilita o atendimento de um grande número de pessoas com baixo custo, pois um profissional pode orientar vários indivíduos, e dá aos praticantes autonomia para obterem os benefícios da atividade física com segurança. Por esse motivo, o estudo pode ter importante implicação na saúde pública se o projeto for replicado em outros parques e ambientes públicos de prática física”, diz.

Alguns dos monitores do projeto Exercício e Coração/2020/2021 – Foto: Cláudia Forjaz

O projeto, atualmente, conta com um convênio acadêmico com o Fundo Social do Governo do Estado de São Paulo e, em anos anteriores, atuou em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Além disso, possui parcerias com diversas instituições que visam à melhora da saúde da população, como a Sociedade Brasileira de Hipertensão, o programa Agita São Paulo, o Sesc e a Associação de Assistência ao Diabético, entre outros. O programa está ainda aberto para visitas e auxílio a pessoas que desejem desenvolver atividades semelhantes em outros parques ou mesmo em outras cidades e já serviu de modelo para programas executados em Minas Gerais, como na cidade de Governador Valadares.

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Mais informações: e-mail cforjaz@usp.br, com Cláudia Forjaz ou comunicaeefe@usp.br, com Paula Bassi