Estudo do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais criou um método para prever evolução do câncer de boca com uso da saliva. O estudo foi feito em parceria com USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp). Para comentar sobre essa iniciativa e as características do câncer de boca, um dos mais agressivos, o Jornal da USP no Ar contatou Ana Carolina Prado Ribeiro, odontologista do Icesp.
A cada ano, 300 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de boca em todo o planeta, e as mortes chegam a 145 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doutora explica que, na maioria das vezes, os pacientes são diagnosticados tardiamente, cenário responsável pela diminuição de sobrevida e por tratamentos mais agressivos. A partir do método desenvolvido, foram identificadas proteínas presentes tanto nos tecidos cancerígenos coletados quanto na saliva. Dessa forma, segundo Ana Carolina, é possível oferecer o prognóstico de evolução da doença por meio da amostra de saliva.
A leitura de proteínas específicas permite facilitar o diagnóstico e formular novos rumos de tratamento para os oncologistas. O estudo possibilita que médicos sejam capazes de analisar individualmente os casos de câncer e oferecer o tratamento mais adequado para cada paciente, afirma a odontologista. O próximo passo do estudo é coletar a lágrima dos pacientes, como um método menos invasivo, e desenvolver um kit com um biossensor, para ser usado no Sistema Único de Saúde (SUS) e dar o resultado do exame de saliva na hora. Mas Ana Carolina ressalta que a ideia é um processo para ser executado a longo prazo.
Como odontologista, ela afirma que esses profissionais são capacitados a identificar sintomas do câncer de boca visualmente. Lesões esbranquiçadas e avermelhadas ou ulceradas são indícios da doença, causada, em cerca de 85% dos casos, por consumo constante de álcool e tabaco, diz especialista. O dentista tem papel fundamental no momento de prognóstico, pois é quem tem o primeiro contato e encaminha o paciente, caso necessário, a um médico especializado.