Acúmulo de ácido úrico é sugerido como marcador para doença arterial

Mesmo quando ainda não existem sintomas, nível da substância pode indicar aterosclerose. Doença em que há acúmulo de gordura nas artérias pode levar a infarto e AVC

 24/05/2023 - Publicado há 11 meses     Atualizado: 25/05/2023 as 12:59

Texto: Júlio Bernardes
Arte: Carolina Borin Garcia

Estudo demonstra que o nível de ácido úrico pode ser um marcador da aterosclerose, doença em que há acúmulo de gordura nas artérias do corpo, em seu estágio inicial, quanto não apresenta sintomas - Fotomontagem de Jornal da USP feita com fotos Freepik

O acúmulo de ácido úrico no organismo está associado a uma maior espessura das paredes das artérias carótidas, vasos sanguíneos que conduzem o sangue até o cérebro. O resultado foi observado em uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) realizada com 4 mil participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), integrado pelo Hospital Universitário (HU) da USP. O estudo demonstra que o nível de ácido úrico pode ser um marcador da aterosclerose, doença em que há acúmulo de gordura nas artérias do corpo, em estágio inicial, quando não apresenta sintomas.

As conclusões do trabalho são descritas em artigo publicado na revista científica Current Problems in Cardiology. “A aterosclerose é uma condição em que existe depósito de gordura, como o colesterol e outros lipídeos, na parede das artérias”, disse ao Jornal da USP o médico Filipe Martins de Mello, que realizou a pesquisa. “Isso leva progressivamente à diminuição do caminho de passagem do sangue até os órgãos e tecidos.”

“As consequências mais temidas da aterosclerose são o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC)”, ressalta o médico. “É difícil definir a prevalência de aterosclerose, mas estudos mostram que as doenças cardiovasculares, como o IAM e o AVC, seguem sendo a maior causa de mortalidade no Brasil.”

Filipe Martins de Mello - Foto: Arquivo Pessoal

Filipe Martins de Mello - Foto: Arquivo Pessoal

A pesquisa foi realizada com participantes do Elsa Brasil. “Ele é o maior estudo epidemiológico brasileiro dedicado a estudar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares”, descreve Mello. “O estudo é multicêntrico e inclui várias universidades brasileiras, dentre elas a USP, pesquisando entre os seus funcionários.”

Na USP, o Elsa Brasil está sediado no Hospital Universitário (HU). “O estudo procurou determinar se existe associação entre níveis mais elevados de ácido úrico com a presença de aterosclerose subclínica, quer dizer, ainda em uma fase precoce”, relata o médico.

Recepção do laboratório do Hospital Universitário (HU), na Cidade Universitária, em São Paulo, onde está localizado um dos centros do Elsa Brasil, maior estudo epidemiológico brasileiro dedicado a estudar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Realizamos, em mais de 4 mil pacientes, ultrassom de carótidas, artérias do pescoço que levam sangue ao cérebro. Medimos a espessura dessas artérias e também fizemos tomografia computadorizada de artérias coronárias, localizadas no coração, para pesquisar a presença de cálcio. Ambas as medidas são indicativas de aterosclerose subclínica.”

O pesquisador explica que o acúmulo de ácido úrico acontece devido a um desbalanço entre sua produção e excreção pelo organismo. “Dietas ricas em proteína animal, ou ingestão de bebidas alcóolicas, sobretudo a cerveja, ou adoçadas com frutose, levam a um aumento da produção de acido úrico. Doenças renais e o uso de algumas medicações podem levar à diminuição da excreção de ácido úrico”, afirma. “Sabe-se que o ácido úrico participa de diversas reações no organismo, e em algumas dessas situações pode haver um efeito lesivo na camada mais interna das artérias, provocando possível aceleração do processo de aterosclerose.”

“O trabalho demonstrou que níveis mais elevados de ácido úrico foram associados com maior espessura das paredes das artérias carótidas”, aponta o médico. “Isso indica associação do ácido úrico com a presença de aterosclerose subclínica em nossa população estudada.”

A pesquisa é relatada no artigo Serum Uric Acid Levels and Subclinical Atherosclerosis: Results From the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (Elsa-Brasil), em que Mello é o primeiro autor. O trabalho foi orientado pelo professor Ricardo Fuller, da FMUSP, e teve a colaboração de Isabela Bensenor, Paulo Lotufo, Marcio Bittencourt e Itamar Santos, do Elsa-Brasil no HU.

Mais informações: e-mail filipimello@hotmail.com, como Filipe Martins de Mello


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