Fatores climáticos puxam para cima valor da cesta básica e pesam no bolso das famílias brasileiras

Produtos como café, carnes, legumes e frutas foram alguns dos mais afetados pela dança dos preços provocada pelas queimadas e pela estiagem prolongada

 21/10/2024 - Publicado há 3 meses
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Na imagem aparece na frente de duas caixas de papelão várias embalagens com alimentos da cesta básica
A cesta básica aumentou 8,06% na cidade de Ribeirão Preto entre os meses de agosto e de setembro – Foto: Governo do Estado de São Paulo/Flickr
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De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo da cesta básica de alimentos aumentou em dez das 17 capitais do Brasil analisadas entre agosto e setembro. A cidade de São Paulo apresentou o maior valor, com R$ 792,47; logo em seguida, Florianópolis (R$ 768,33), Rio de Janeiro (R$ 757,30) e Porto Alegre (R$ 756,17). Em Ribeirão Preto, o valor aumentou em 8,06%, passando de R$ 622,47 em agosto para R$ 672,65 em setembro, segundo pesquisa feita pelo Instituto de Economia Maurílio Biagi (Iemb) da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).

Luciano Nakabashi – Foto: CV Lattes

O professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, afirma que o aumento do valor da cesta básica está relacionado à questão das queimadas e da estiagem prolongada. “O café acabou sofrendo bastante com as queimadas, principalmente em regiões importantes como Franca, que são produtoras de café. Também tem a questão cambial, o real tem sido depreciado nesses últimos meses, o que acaba afetando alguns produtos agropecuários que têm um preço determinado no mercado internacional, que são commodities. O preço é determinado em dólar e quando o real perde valor, esses produtos também tendem a subir o preço.”

A analista Livia Piola, do Iemb-Acirp, diz que os principais alimentos afetados pelas condições climáticas são “carnes, café, legumes e frutas, pois são alimentos muito sensíveis às condições climáticas. Por exemplo, comparando os preços entre agosto e setembro, a carne teve um aumento de 12%, o café variou de preço quase 20% e o tomate italiano 16% em Ribeirão Preto”. Já em São Paulo, segundo o Dieese, oito dos 13 produtos que compõem a cesta básica registraram aumento nos preços, a banana (4,14%), óleo de soja (2,87%), carne bovina de primeira (2,86%), café em pó (2,81%), farinha de trigo (2,66%), pão francês (1,67%), leite integral UHT (1,15%) e feijão carioquinha (0,59%).

Segundo Nakabashi, a tendência é que os produtos que foram mais atingidos pela estiagem e pelas queimadas continuem com o preço alto até o final do ano. “O ciclo do café é bem longo e, quando ele é atingido pelas queimadas, demora cerca de dois anos até se recuperar. Os preços continuarão aumentando, mas não na mesma proporção da pesquisa feita pela Acirp”, afirma.

Variação por região

A pesquisa realizada pela Acirp também mostrou que os preços variam de acordo com as regiões de Ribeirão Preto. A zona sul apresentou o maior custo da cesta de alimentos, com R$ 716,38 e destaque para a carne bovina, que subiu 14,84%. Já a zona leste teve o menor valor da cesta básica, custando R$ 646,08 e tendo destaque no café em pó, que aumentou 40,19% nessa região.

Livia Piola – Foto: Linkedin

Livia diz que existem três fatores que contribuem para as diferenças de preços nas regiões da cidade. “A questão do público consumidor influencia, existem compradores que demandam experiências de consumo diferentes em cada região e o mercado se adapta na apresentação e organização dos produtos.” Além disso, a analista ressalta que questões imobiliárias e de tributação fazem com que cada lugar tenha um preço diferente. 

Com o aumento, Nakabashi aponta que quem acaba sendo mais afetado são as famílias de baixa renda. “Famílias das classes E e D comprometem mais de 50% da renda com alimentos e elas já têm muito mais necessidades básicas e esse aumento do preço acaba pressionando bastante o orçamento. Mesmo a classe C, que já tem uma renda familiar mais alta, entre R$ 2 mil e R$ 6 mil, ainda tem um comprometimento alto, em torno de 30%, 35% da renda com alimentos.”

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone


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