
No Brasil, 72,5 milhões de pessoas estão endividadas, de acordo com o Mapa de Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa. O número reflete a falta de organização financeira dos brasileiros, que também é demonstrada em outro dado: segundo a SPC Brasil, serviço de informações de crédito, 58% dos endividados admitem que nunca, ou somente às vezes, dedicam tempo a atividades de controle financeiro. É nesse cenário que surgem as fintechs, startups – empresas jovens de base tecnológica – do mercado financeiro.
Até o primeiro semestre de 2024, a América Latina contava com 2.712 fintechs ativas, sendo 58,7% dessas startups de origem brasileira, de acordo com relatório da Distrito, plataforma voltada para o fomento à inovação. Segundo informações do Banco Central, a quantidade de contas ativas de pessoas físicas em fintechs no Brasil ultrapassa em cerca de 40 milhões o número de habitantes no País, que atualmente é de pouco mais de 212,5 milhões. Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade em Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, explica que a alta adesão aos serviços oferecidos por essas empresas se dá, principalmente, pela facilidade de acesso pela digitalização.

“Essas empresas geralmente não têm uma interação presencial com quem utiliza essas soluções. São empresas que operam totalmente de forma digital. Como as fintechs foram surgindo na evolução das tecnologias de informação, elas estão voltadas a oferecer um atendimento digital, ou seja, você muitas vezes consegue fazer tudo pelo smartphone”, afirma.
As fintechs oferecem soluções que em sua maioria são as mesmas de instituições financeiras tradicionais, como bancos, corretoras e seguradoras, a diferença é que estas apresentam inovações tecnológicas. Entre as soluções, estão tecnologias de organização financeira que ajudam na gestão dos recursos e do mercado de crédito que simplificam a renegociação de dívidas através do oferecimento de descontos e baixo custo operacional. Segundo Nakabashi, são essas soluções que ajudam no controle da inadimplência. Um estudo de 2023 da Serasa Experian, empresa brasileira que fornece informações para decisões de crédito e apoio a negócios, revelou que entre 2019 e 2022 a participação de fintechs e bancos digitais nas movimentações de dívidas no Brasil subiu quase 129%.
“Existe uma demanda para que as pessoas tenham mais controle financeiro, e as fintechs oferecem soluções, como aplicativos, que ajudam nesse planejamento. Além disso, essas startups trazem taxas menores para negociar dívidas e oferecem mais opções de investimento, e isso acaba sendo interessante para que a pessoa pense, ao invés de gastar, eu posso investir”, analisa.
Para o docente, o alto número de inadimplentes, que as fintechs tentam regular, é fruto da cultura brasileira de não poupar dinheiro. “Um dos grandes incentivos de poupança é se preparar para a aposentadoria. Como no Brasil você tem a Previdência Pública, o INSS, e também a Previdência dos Servidores, isso reduz o incentivo à poupança das pessoas.” Além disso, Nakabashi afirma que os altos juros, que muitas vezes são maiores que a dívida, intensificam as complicações financeiras. Assim, além das soluções apresentadas pelas fintechs, é preciso que incentivos para poupar dinheiro sejam criados.
“O setor público pode utilizar o nudge, um empurrãozinho para que as pessoas possam poupar mais. Também tem surgido conhecimento da psicologia que mostra que as pessoas não pensam muito no futuro porque o benefício de você não poupar ou de pedir um empréstimo para comprar alguma coisa é imediato. Por isso, estratégias para que as pessoas consigam trazer as consequências futuras do planejamento para o presente ajudam a criar ânimo em poupar dinheiro e evitar o endividamento”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Gabriel Soares