O Simpósio de Susceptibilidade Genética Aplicada à Saúde, promovido pelo Projeto Genomas SUS e o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde, apresentou resultados que prometem transformar a prática clínica no Brasil. Realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP na semana passada, o evento reforçou a relevância da genômica na saúde pública, abordando avanços que possibilitam maior precisão em tratamentos por meio da análise da variabilidade genética da população brasileira.
Entre os principais temas discutidos estiveram o impacto das alterações genéticas na população, os fluxos de sequenciamento genômico e a avaliação genética em larga escala. Essas pautas conectam-se à proposta do Genomas SUS, que visa a implementar modelos de saúde de precisão no Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto, que em seu primeiro ano planeja sequenciar o genoma de 21 mil brasileiros, busca identificar variantes genéticas associadas a doenças como cânceres, condições cardiovasculares, neurológicas, autoimunes, infecciosas e raras.
O grande diferencial do Genomas SUS é considerar a diversidade genética de todas as regiões do Brasil. O professor Leandro Colli, pesquisador do Genomas SUS e coordenador do centro âncora, com sede na FMRP e responsável por receber amostras biológicas e realizar o sequenciamento, destacou a importância desse trabalho. “A variação genética e ambiental da nossa população influencia diretamente a associação com doenças. Como os estudos existentes se concentram em populações dos Estados Unidos (EUA) e Europa, eles não representam o genoma brasileiro”, explicou. Colli acrescentou que, com essa nova base de conhecimento, será possível desenvolver modelos de prevenção, tratamento e rastreamento de doenças mais eficazes.
Para a primeira fase do estudo em Ribeirão Preto o recrutamento de voluntários já foi encerrado, entretanto novas vagas serão abertas e divulgadas no próximo ano, segundo Colli.
Radiação na saúde genética
O simpósio também trouxe uma contribuição internacional com a palestra de Stephen J. Chanock, diretor da Divisão de Epidemiologia e Genética do Câncer no Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Chanock compartilhou pesquisas sobre os efeitos transgeracionais da radiação em Chernobyl, destacando como o sequenciamento genômico pode identificar alterações causadas pela exposição.
A pesquisadora Rafaela Ferraz, integrante do projeto Genomas SUS, explicou que a radiação ionizante pode provocar mutações no DNA, aumentando a suscetibilidade a doenças como o câncer. “Métodos como o Sequenciamento de Nova Geração (NGS) permitem detectar alterações genômicas e compreender os efeitos da radiação no DNA de indivíduos expostos. Isso inclui não apenas acidentes nucleares, mas também exposições ocupacionais e radiação ultravioleta”, afirmou.
Rafaela ressaltou que o sequenciamento massivo também identifica mutações transmitidas entre gerações, o que é fundamental para estabelecer normas que protejam profissionais expostos à radiação, como radiologistas e trabalhadores da indústria nuclear.
O projeto Genomas SUS, financiado pelo Decit e pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Saúde, está inserido no Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão (Genomas Brasil). Com a promessa de ampliar a compreensão da variabilidade genética brasileira, o programa pavimenta o caminho para um sistema de saúde mais inclusivo e eficiente, fundamentado na ciência de ponta e na diversidade biológica do País.
*Estagiário da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto sob supervisão de Rose Talamone