Ribeirão Preto é medalha de bronze no pódio do retrocesso educacional

No comparativo dos anos de 2021 e 2019, período da pandemia da covid-19, o município caiu 42 posições no ranking da educação básica no Brasil

 16/12/2022 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 20/12/2022 as 17:40
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O Brasil  foi um dos países com mais tempo de escolas fechadas – Foto: pixabay

 

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A cidade de Ribeirão Preto teve o terceiro maior retrocesso na educação básica entre os 115 municípios mais populosos do Brasil durante a pandemia de covid-19. Levantamento realizado pelo portal Farolete utilizou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que compara o aprendizado em português e matemática dos municípios brasileiros com mais de 250 mil habitantes. A Secretaria Municipal de Educação contesta o resultado do levantamento. 

Cristiano Pavini – Foto: Arquivo Pessoal

O Farolete analisou os dados dos anos iniciais do Ensino Fundamental – do primeiro ao quinto ano -, levando em consideração apenas a rede municipal de cada cidade. Com isso, segundo o jornalista do portal, Cristiano Pavini, no ano de 2019, Ribeirão Preto ocupava a 39ª posição de melhor aprendizado, na comparação com as outras 115 cidades, caindo para a 81ª em 2021. 

Devido à pandemia de covid-19, com as escolas fechadas, o retrocesso generalizado na educação já era esperado. “Das 115 maiores cidades brasileiras, apenas três melhoraram os seus indicadores, porém, o retrocesso verificado em Ribeirão Preto foi bem superior ao das demais grandes cidades, tanto em números absolutos quanto no comparativo porcentual. Enfim, algo ocorreu para que Ribeirão Preto destoasse da média de retrocesso dos municípios”, afirma Pavini.

Os motivos do retrocesso

Segundo o portal de notícias, uma das causas teria sido a ação judicial movida pelo Sindicato dos Servidores Municipais durante a pandemia para que as aulas fossem retomadas apenas após as medidas de segurança sanitária terem sido adotadas. Já o professor Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, Polo Ribeirão Preto, diz que a principal dificuldade, que causou o retrocesso na educação em decorrência da pandemia, foi a ausência de uma coordenação nacional por parte do Ministério da Educação (MEC) atuando junto aos Estados e aos municípios.

“Nós vimos um MEC completamente desarticulado, com muitas dificuldades de promover ações integradas, principalmente no campo da oferta do ensino, usando as novas tecnologias. Grande parte dos municípios brasileiros ficaram sem acesso à internet e notadamente não tiveram como oferecer, por exemplo, o ensino remoto”, afirma Ramos. 

O Brasil, segundo o professor, foi um dos países com mais tempo de escolas fechadas e o município de Ribeirão Preto, ao menos no âmbito do território de São Paulo, foi um dos que ficaram mais tempo sem aulas presenciais devido à falta de estrutura para a utilização das novas tecnologias.

Mozart Neves Ramos – Foto: IEA-RP

As possíveis soluções

O IEA-RP tem parceria com 35 municípios brasileiros, incluindo Ribeirão Preto, para o enfrentamento da desigualdade educacional e a melhoria da qualidade do ensino. “Um dos trabalhos que vêm sendo feitos pela cátedra desde o começo deste ano é a formação de professores em matemática, através de parceria com o Instituto Máthema, para aprimorar a formação dos alunos dos anos iniciais onde o impacto da pandemia foi maior em Ribeirão Preto,” afirma Ramos.

Ele diz que outra iniciativa da cátedra, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação de Ribeirão Preto, é a melhoria da gestão escolar. Esse trabalho vem sendo feito pela pós-doutoranda do IEA-RP, Filomena Siqueira, que atua na formação de lideranças escolares com os diretores e vice-diretores das escolas municipais. Segundo Ramos, essas lideranças impactam positivamente na aprendizagem dos alunos e na escala Saeb.

O professor acredita que os esforços empreendidos poderão ser melhor avaliados com a divulgação da nota do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), que é aplicado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para diagnosticar a situação da escolaridade básica de cada município e auxiliar gestores do ensino no acompanhamento das políticas direcionadas à melhoria da educação.

Secretaria Municipal da Educação

Questionada pelo Jornal da USP no Ar – Edição Regional da Rádio USP em Ribeirão Preto, a Secretaria Municipal da Educação informou, em nota, que os dados utilizados na pesquisa do Farolete não são suficientes para avaliar a educação no município e indicou suas ações para conter o já esperado retrocesso na educação devido à pandemia. Leia a seguir a íntegra da nota:

“Com relação aos questionamentos apresentados, a Secretaria Municipal da Educação esclarece que os dados obtidos pelo Saeb,  que compuseram a nota do Ideb 2022, são insuficientes para aferir a aprendizagem dos estudantes, tendo em vista que as escolas da rede municipal de Ribeirão Preto ficaram por quase 18 meses sem aulas presenciais, em decorrência de uma ação civil pública impetrada pelo Sindicato dos Servidores Municipais.

A Pasta, se antecipando ao resultado, que já era esperado, iniciou o ano letivo de 2022 com diversas ações, objetivando a recuperação da aprendizagem, depois do longo período sem aulas presenciais, quais sejam: a ampliação da carga horária com a inserção da 6ª aula; a implantação do projeto Todos Juntos, que consiste na oferta de um segundo professor nas turmas do 1º ao 5º ano; o Projeto de Recuperação Paralela, que vem atendendo, no contraturno escolar, mais de 4 mil alunos com dificuldades já diagnosticadas, proporcionando recuperação diferenciada, voltada para as especificidades de cada estudante; a oferta de oficinas práticas de leitura e matemática no turno regular; o programa municipal de alfabetização e letramento; e a reestruturação da língua inglesa, com a inserção de três aulas de inglês para os alunos dos anos iniciais e o aumento da carga horária de duas para cinco aulas nos anos finais do ensino fundamental. Para isso, houve a necessidade de contratação de mil novos professores.

Associada a essas ações, outra preocupação da Pasta foi o acompanhamento dos resultados dos projetos em andamento. Assim sendo, como forma de mensurar a aprendizagem, os estudantes vêm passando por avaliações externas, desenvolvidas pela Fundação Vunesp, por meio da metodologia de Teoria de Resposta ao Item (TRI), tendo como base o referencial curricular municipal e as habilidades especificadas para o primeiro semestre de 2022.

No final de novembro ocorreram as avaliações do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), cujos dados serão utilizados para avaliar a efetividade das ações em andamento.

Dessa maneira, a rede municipal de ensino vem trabalhando de forma efetiva no sentido de garantir o acesso e a permanência dos alunos à escola, a universalização do ensino e a qualidade da educação oferecida aos nossos alunos.

Portanto, a comparação de dados do Ideb com outros municípios mostra-se completamente inapropriada neste momento, em virtude das especificidades apresentadas em cada localidade nos dois últimos anos no contexto de pandemia.”


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*O texto foi corrigido no dia 19/12/2012. Foi alterado o trecho onde constava que: ….uma das causas teria sido a greve dos trabalhadores  das instituições de ensino. O correto é: ….uma das causas teria sido a ação judicial movida pelo Sindicato dos Servidores Municipais durante a pandemia….


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