Avaliações educacionais precisam entender melhor a sociedade atual

Análise foi feita por Mozart Neves Ramos no encerramento da XII Reunião da Abave; equipe da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, da qual Ramos é o titular, também apresentou trabalhos no evento

 29/09/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 02/10/2023 às 12:48
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O professor Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do IEA-RP, durante encerramento da XII Reunião da Abave

Pesquisas realizadas pelo time de análise de dados da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP, foram compartilhadas com os participantes da XII Reunião da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave), voltada a promover o debate sobre inovações no desenho e nos usos das avaliações em educação. Realizado entre os dias 29 de agosto e 1º de setembro, na Unicamp, em Campinas (SP), o evento reuniu mais de 600 pesquisadores, gestores de educação e os principais órgãos públicos de educação do Brasil.

“Se a avaliação não for capaz de entender a sociedade onde está inserida, ela não está a serviço do desenvolvimento de crianças e jovens. Nós estamos em um cenário absolutamente disruptivo, mas com avaliações ainda olhando para o passado”, afirmou o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos, durante a mesa de encerramento do evento. Ele trouxe como exemplo o fato de que a matriz do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que orienta a escolha de conteúdo das avaliações em larga escala no Brasil, é a mesma há 20 anos e ainda não incorpora um olhar sobre competências necessárias para a vida no mundo atual. “Como conseguir preparar para o futuro uma criança que está sendo avaliada com uma matriz de 20 anos atrás?”

Para ele, a própria presença de especialistas na reunião da Abave mostra que não falta capacidade técnica para propor as mudanças necessárias na educação. “Aqui é impressionante a densidade de gente qualificada, por quem tenho admiração profunda. Não é por falta de massa crítica. Mas então por que não mudamos? Por que a gente não tem uma avaliação que olhe para o futuro desses jovens? Estamos diante de um grande desafio e, para transformá-lo em uma bela oportunidade, precisamos de reformas estruturais disruptivas. Isso não se faz sem lideranças a serviço da sociedade”, afirmou Mozart.

Os pesquisadores da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, Leomar da Silva e Larissa Maciel, durante apresentação na XII Reunião da Abave

Uma das propostas da própria Cátedra para transformar a leitura dos dados e indicadores educacionais nas redes municipais de ensino foi apresentada durante a sessão de artigos aprovados pelo Conselho Científico da Abave, com autores de todo o Brasil. Os pesquisadores Leomar da Silva e Larissa Maciel falaram sobre o uso da técnica estatística multivariada de componentes principais, que agrupa em uma mesma matriz de dois eixos um conjunto de cinco indicadores, permitindo identificar os fatores mais responsáveis pela desigualdade no desempenho dos estudantes em cada rede.

Para Leomar, ao destacar as ferramentas de visualização de dados como algo crucial para a análise de indicadores educacionais, a apresentação enfatizou a importância de extrair evidências claras a partir dos dados. “O evento mostrou a relevância da avaliação educacional, tanto no âmbito acadêmico quanto para os educadores, como uma ferramenta vital para a melhoria do sistema educacional e a promoção da qualidade da educação. Foi uma experiência enriquecedora e estimulante”, analisou. Ele também destacou alguns momentos-chave de aprendizagem, como o debate sobre microdados educacionais e a Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais (LGPD) que enfatizou a importância da privacidade e da segurança dos dados na educação , as discussões sobre alfabetização, ressaltando a necessidade de estratégias eficazes de ensino, e a apresentação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que permitiu aprender com as melhores práticas internacionais, realçando a importância da colaboração global no campo educacional.

“Participar da Abave foi extremamente gratificante e enriquecedor, não só pela oportunidade de apresentarmos os trabalhos desenvolvidos na Cátedra, mas também pelo aprendizado com as diversas personalidades de renome na área. Além disso, é muito animador ver tantas pessoas engajadas para a melhoria da educação de nosso país”, afirmou Larissa.

Lourival Matias, da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, durante apresentação na XII Reunião da Abave

Na sessão de pôsteres, que ficaram expostos na área de convivência durante todos os dias do evento, o pesquisador da Cátedra, Lourival Matias Carneiro Neto, mostrou um resumo do trabalho O impacto da pandemia na proficiência escolar em redes municipais de ensino. Segundo ele, a experiência de participar da reunião foi melhor do que imaginava. “Inicialmente pensei que seria apenas mais um congresso em que você apresenta seu trabalho e recebe feedbacks. Contudo, depois de ler tantos artigos escritos por pessoas tão importantes na avaliação educacional, dá um certo frio na barriga saber que agora os trabalhos desenvolvidos por nós durante meses serão lidos por essas mesmas pessoas”, contou.

Para Lourival, estar com tantos expoentes brasileiros da educação e entender a visão deles, tanto do momento atual quanto do futuro, é uma oportunidade de expandir os horizontes sobre as expectativas para o país. Ao mesmo tempo, o evento permitiu conhecer projetos desenvolvidos por tantos outros jovens que saíram recentemente da escola, buscando corroboração científica com o intuito de melhorar a educação brasileira. Por esses e outros motivos, o pesquisador sugere que a reunião da Abave passe a ser anual, ao invés de realizada a cada dois anos.


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