Crianças e adolescentes ajudam a construir sociedade consciente da doação de órgãos e tecidos

Pesquisador defende que o tema faça parte de currículo escolar e acadêmico brasileiro

 17/05/2021 - Publicado há 3 anos
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Doação de órgãos – Ilustração: Macrovector – freepik / Fotomontagem Jornal da USP

 

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Porque recebeu um novo fígado há quase três anos, a publicitária Bianca Manzini Gimenes Feiteira, de 38 anos, está aqui para contar sua história. Quando descobriu a cirrose biliar primária em 2018, a doença autoimune já estava em estado crítico. Durante um mês, Bianca esteve na fila de transplante do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP, aguardando um órgão compatível; espera abreviada pela gravidade de seu caso em junho do mesmo ano. 

E foi quando teve sua “segunda chance de viver”, afirma a publicitária, sabendo que “estava literalmente morrendo, eu fui ao meu limite da doença, e os rins começaram a falhar também”. Hoje, feliz pela vida que recebeu, Bianca descobriu que pode ser doadora de órgãos e quer encorajar quem tem receios de se tornar um doador também. “Tire suas dúvidas com quem é transplantado ou com médicos”, incentiva, lembrando que existem diversas formas de doação, inclusive com doadores vivos. Segundo o Ministério da Saúde, ainda em vida, as pessoas podem doar “um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea”. 

Doação de órgãos e tecidos no Brasil

ABTO – Foto: https://site.abto.org.br/

Embora o Brasil seja o segundo país que mais transplanta órgãos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos da América, 2020 terminou com aproximadamente 44 mil pessoas na lista de espera para transplante, que considera a ordem de chegada, a compatibilidade e a gravidade da doença. No ano passado, o Brasil registrou apenas 3.323 doadores efetivos de órgãos. Um dos fatores que explicam a baixa no número de doadores é a recusa familiar, que atingiu a taxa de 42% no mesmo ano. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), vinculado à Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), que mostram a necessidade de debates sobre a doação de órgãos e tecidos no País. 

Conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos

Para o pesquisador Carlos Alexandre Corsi, técnico do Banco de Tecidos Humanos do HC-FMRP, os melhores propagadores deste tema são as crianças e adolescentes, “agentes naturais de causas e discussões sociais”. Por isso, Corsi defende que a educação sobre a doação de órgãos seja apresentada já na escola, trabalho que ele realiza desde 2015 com alunos dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas de Ribeirão Preto. A atividade é feita pela parceria do Banco de Tecidos do HC-FMRP com a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e a ONG Sou Doador.

Para o pesquisador, que trabalha diretamente nas escolas com as crianças e adolescentes, esse é o público que mais facilmente é capaz de “assimilar, digerir e aceitar que poderiam ser eles na fila de transplante”. Acredita tanto no potencial dos escolares que, mesmo durante a pandemia da covid-19, tem mantido os trabalhos em sistema remoto com os alunos.

Mas ele diz que, idealmente, esse trabalho deve ser conduzido por meio de políticas públicas, como busca o Projeto de Lei 2839/2019 que institui o Programa de Ensino e Conscientização sobre Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos no currículo escolar e acadêmico brasileiro. O especialista da USP participou da elaboração da PL que atualmente encontra-se tramitando no Congresso Nacional.

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