Foto: Ilustração de Guilherme Castro e imagem de Pixabay

Caminhada sobre a trave melhora equilíbrio de idosos

Estudo da USP mostra capacidade dos idosos em adaptar o caminhar em diferentes contextos, mesmo os mais desafiadores

 29/07/2022 - Publicado há 2 anos

Autor: Brenda Marchiori

Arte: Guilherme Castro

“A ocorrência de quedas representa um dos grandes desafios para os idosos. Dados epidemiológicos indicam que aproximadamente um terço dos idosos acima dos 65 anos irão cair ao menos uma vez no período de um ano”, afirma o professor Renato Moraes, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, líder de um grupo de pesquisadores que acaba de comprovar que, em apenas três dias de treino na trave, idosos podem adquirir maior equilíbrio nas caminhadas e evitar essas quedas.

Os resultados do estudo são importantes, segundo o professor, pois apresentam um recurso que ajuda a prevenir essas quedas que “podem ser devastadoras, já que muitos idosos sofrem lesões graves como fraturas de fêmur e podem, até mesmo, vir a óbito”. Moraes defende que sejam desenvolvidas estratégias de prevenção que contribuam para a melhora da qualidade de vida dos idosos, além de reduzir os custos dos sistemas de saúde. 

Como uma dessas estratégias, o treinamento aplicado pelos pesquisadores da EEFERP foi realizado durante três dias seguidos em 25 idosos saudáveis, na faixa etária de 65 a 80 anos e que possuíam “cognição e mobilidade preservadas”. Os detalhes sobre a pesquisa acabam de ser publicados em artigo da Neuroscience Letters, destacando os resultados positivos e mostrando que os idosos são “capazes de adaptar a caminhada a contextos mais desafiadores”, como acontece na trave, além de aprenderem novas habilidades motoras, argumenta o pesquisador. 

A hipótese inicial da equipe, conta Moraes, era a de melhorar o equilíbrio dos idosos com o treinamento de caminhada sobre uma trave utilizando âncoras hápticas (ferramenta utilizada para a melhora do equilíbrio ao caminhar). Contudo, assegura o professor, os resultados da caminhada sobre a trave foram benéficos independentemente do uso dessas âncoras. 

Renato Moraes - Foto: Reprodução/EEFERP/USP

Renato Moraes - Foto: Reprodução/EEFERP/USP

Caminhada sobre a trave

Os idosos foram separados em dois grupos; um realizou o treinamento de caminhar na trave sem as âncoras e o outro, com as âncoras hápticas. Todos executaram a caminhada descalços sobre uma trave de equilíbrio – com 2cm de altura, 6cm de largura e 4m de comprimento -, “em suas velocidades preferidas”, 30 vezes, durante três dias consecutivos. 

Como resultado, verificaram que os dois grupos apresentaram melhora do equilíbrio em função do treinamento sobre a trave, independentemente do uso das âncoras, aprendendo “a adaptar a caminhada a um contexto mais desafiador após três dias de treinamento”, comemora o pesquisador. Após o treinamento, acrescenta Moraes, “os idosos dos dois grupos conseguiram caminhar uma distância maior sobre a trave e reduziram a quantidade de ajustes no movimento do tronco para conseguir caminhar sobre ela. Em outras palavras, houve uma melhora do equilíbrio em função do treinamento”.

Novas habilidades motoras pedem ambientes desafiadores

A pesquisa confirmou que os idosos são capazes de aprender a adaptar o caminhar em diferentes contextos. O professor Moraes afirma que a capacidade dos idosos de aprender novas habilidades motoras sempre é questionada, mas que o estudo de sua equipe contribui reforçando o que outros estudos já apontam para outras tarefas motoras, “de que os idosos têm, sim, plenas condições de aprenderem novas habilidades motoras”. 

Moraes destaca também que é importante que os idosos aprendam a adaptar a caminhada a contextos ambientais mais difíceis. “Caminhar em situação confortável e pouco desafiadora não gera adaptações que contribuam para melhorar o equilíbrio.” Para que os idosos consigam alcançar essa melhora, “é essencial que a tarefa locomotora seja desafiadora, o que ocorre na caminhada na trave”.

Agora, os pesquisadores estão iniciando outros estudos sobre “essa possível transferência de aprendizagem do caminhar na trave para o caminhar em outras circunstâncias”, conta Moraes. 

Ouça no player abaixo entrevista do professor Renato Moraes, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.

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Mais informações: renatomoraes@usp.br


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