Aplicativo de celular desenvolvido na USP otimiza terapia com ultrassom

A nova plataforma desenvolvida na USP em Ribeirão Preto é de fácil acesso, utilização e possibilita ajuste correto de temperatura e intensidade em tratamento com ultrassom nas diferentes regiões do corpo humano

 07/11/2022 - Publicado há 1 ano
Por
Aplicativo pode auxiliar profissionais da saúde na aplicação da terapia de ultrasson – Foto: 123RF

.
Pesquisadores da USP desenvolveram um aplicativo para celular para auxiliar profissionais da saúde durante a aplicação do ultrassom terapêutico. A nova plataforma, chamada DUST (Dose de Ultrassom Terapêutico), indica quais os parâmetros de temperatura, tipo de pulso e tempo de exposição, por exemplo, devem ser utilizados durante o tratamento.

Dentre os desenvolvedores estão o professor Rinaldo Roberto de Jesus Guirro, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP); o fisioterapeuta Carlos Eduardo Girasol, pesquisador do Laboratório de Recursos Fisioterapêuticos da FMRP, e o físico médico Tennyson Will de Lemos, pesquisador no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

A terapia com ultrassom, de acordo com o professor Guirro, é muito utilizada por fisioterapeutas para o tratamento de lesões em diferentes regiões do corpo humano, como tendões, músculos, ossos e pele. Esta técnica auxilia no alívio da dor e na melhora funcional da região lesionada, reduzindo processos inflamatórios e possibilitando a regeneração da lesão.

O ultrassom terapêutico, continua o professor, é recomendado quando há um dano no tecido conjuntivo, como o tecido ósseo e o cartilaginoso, que são tecidos de conexão que possuem como principais funções fornecer sustentação e preencher espaços entre outros tecidos, além de nutri-los. A onda mecânica gerada pelo ultrassom consegue “acelerar a reparação tecidual ativando os fibroblastos”, células envolvidas na cicatrização que têm a função de manter a integridade do tecido conjuntivo e a circulação sanguínea.

Com funciona o novo aplicativo

Rinaldo Roberto de Jesus Guirro – Foto: Reprodução/ResearchGate

O desenvolvimento da nova tecnologia foi pensado para colaborar com o profissional que está na clínica atuando junto ao paciente. Basta fornecer os parâmetros físicos do equipamento de ultrassom e as informações sobre a região do corpo humano afetada, que  o aplicativo faz uma previsão da quantidade de energia que chegará ao tecido a ser tratado.

Para deixar mais clara a funcionalidade do novo sistema, Guirro usa como exemplo o tratamento de um tendão e adianta que o profissional terá que indicar a profundidade, em milímetros, em que esse tecido se encontra, considerando, lógico, o seu local exato no corpo. A partir disso, ele deve selecionar qual a frequência do ultrassom, se é um pulso contínuo ou pulsado; se pulsado, deve indicar a frequência e qual é o ciclo de trabalho deste pulsado, além da intensidade que será aplicada.

Com essas informações, “o aplicativo vai calcular diferentes índices desses tecidos, previamente levantados da literatura científica, e calcular qual é a energia que vai chegar naquele tendão, qual é a energia que vai ser dissipada até que essa onda mecânica chegue no tendão e qual o tempo de irradiação para se atingir determinado nível de energia, que nós chamamos de área de radiação efetiva. Também irá calcular a temperatura que pode chegar naquela lesão, frente a esta energia que está sendo depositada pelo ultrassom terapêutico”, comenta o professor.

Interface do aplicativo, com as telas de entrada e saída de dados – Foto: Reprodução/Teses.usp.br

.
Vantagens da plataforma 

A principal vantagem da nova tecnologia sobre os métodos de cálculo utilizados hoje é “a facilidade de acesso e a praticidade que o aplicativo traz para o terapeuta, utilizando o rigor metodológico e científico”, informa Girasol. Hoje dois cenários são possíveis: o primeiro é a utilização de um software de difícil aquisição até mesmo para o uso clínico; o outro são cálculos feitos de forma manual para encontrar os parâmetros corretos. Portanto, a metodologia atualmente disponível, segundo o pesquisador, “não é prática no dia a dia”, já que muitas vezes a quantidade de cálculos dificulta o trabalho clínico do profissional.

Para Girasol, o software que criaram dará mais agilidade aos atendimentos dos terapeutas e beneficiará os pacientes, uma vez que indica os valores precisos para o tratamento. “Também é possível extrapolar isso para o ambiente didático, em que os professores das disciplinas que lecionam sobre esse assunto poderão discutir e mostrar alguns exemplos práticos”, afirma.

Compatibilidade dos equipamentos e possíveis riscos à saúde

Carlos Eduardo Girasol e Tennyson Will de Lemos – Foto: Reprodução/LinkedIn

O novo aplicativo pode ser utilizado com qualquer aparelho de ultrassom certificado pela Anvisa, já que, informa Lemos, possuem informações necessárias para o uso do aplicativo. Caso o dispositivo utilizado não possua a certificação, esses dados podem não existir ou não serem confiáveis, acarretando um ajuste incorreto.

E o uso de parâmetros incorretos, afirma o pesquisador, pode gerar problemas para o paciente. “Os valores de intensidade devem ser escolhidos de acordo com o tratamento. Caso esses valores de intensidades fiquem abaixo do valor indicado, resultará em um tratamento inadequado ou insuficiente, não gerando os benefícios desejados. Caso os valores ficarem acima, poderão causar lesões no tecido”, conclui.

Ouça entrevista dos pesquisadores à Rádio USP no player abaixo.

Agência USP de Inovação

A nova ferramenta está com pedido de patente em andamento pela Agência USP de Inovação (Auspin), no Núcleo de Inovação Tecnológica da USP, criado em 2005 e responsável por gerir a política de inovação para promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural na Universidade a favor do desenvolvimento socioeconômico do Estado de São Paulo e do País. 

A Agência atua diretamente na proteção do patrimônio industrial e intelectual produzido na USP, orientando docentes, alunos e funcionários na elaboração de projetos e efetuando os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, direitos autorais de livros, softwares, músicas, entre outras criações. A Auspin está presente em todos os campi da USP: São Paulo, Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos.

Mais informações: rguirro@fmrp.usp.br


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.