Peça no Teatro da USP relê a figura bíblica de José como visão alternativa de masculinidade

Em quatro apresentações no Tusp Butantã, a peça “Um Homem Chamado José” parte da figura do pai de Jesus para ressignificar paternidade e patriarcalismo

 02/08/2024 - Publicado há 5 meses     Atualizado: 05/08/2024 às 12:15
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O Teatro da USP (Tusp) recebe de 8 a 11 de agosto de 2024, na sala Butantã, uma curta série de apresentações gratuitas do espetáculo Um Homem Chamado José. As sessões finalizam emblematicamente no Dia dos Pais.

Otacílio Alacran, em foto de André Grejio

Criação cênica centrada no tema da paternidade, Um homem chamado José é uma releitura original da figura bíblica que revela um José inesperadamente contemporâneo, não alinhado aos padrões de seu tempo, e que aponta caminhos para novas definições do que é ser pai ou ser homem. “É fundamental tratar de todos os homens contidos num só”, afirma o diretor Marcos Azevedo. José se apresenta em cena como um homem comum, humano e falho – e não como um santo a priori. “O que nos interessa é mostrar que ele pode habitar em todos nós, e que ele, como mero mortal, conseguiu se superar e elevar seu caráter e seus atos”, completa o diretor.

A peça nasce do interesse do artista-investigador Otacílio Alacran, que também é agente cultural do Tusp,  por um teatro no qual a ação do ator fica no centro da construção de significados da cena. Através de uma cena sintética, a peça aponta aspectos da dimensão simbólica do imaginário transcultural humano, em especial as ressonâncias do patriarcalismo (“a regra do pai”) junto à sociedade. Segundo o ator, a ideia foi promover uma reflexão sobre como José, com seu jeito acolhedor e silencioso, funda um outro conceito de masculinidade, que ia contra os princípios da época. “Naquele momento uma mulher que falasse que engravidou de um certo espírito santo seria vista como adúltera e, provavelmente, acabaria apedrejada. Mas ele escolheu ficar com Maria e cuidar desse filho”, comenta.

O atual projeto une uma dramaturgia inédita de Marcos Barbosa, a direção de Marcos Azevedo, música de Fábio Cintra, preparação corporal de Élder Sereni,  produção de Iza Marie Miceli e idealização e atuação de Otacílio Alacran, reunidos em torno da legenda AIAS do Brasil.

Inicialmente inspirados pelo 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja Católica e pela carta apostólica Patris Corde do Papa Francisco, a peça teve sua primeira aparição como uma live-espetáculo em parceria com a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Cocaia, na Diocese de Guarulhos, São Paulo. Com participação ativa na encenação do Padre Jair Costa e apoio das demais pastorais e comunidade, em 25 de dezembro de 2020 foi apresentado o experimento cênico remoto ao vivo, diretamente da sede da paróquia.

O trabalho finalizou o 26º Ciclo do Programa Tusp de Leituras Públicas (PAI BRASIL?) com duas leituras dramáticas gratuitas no fim de dezembro de 2023, na Sala Experimental do TUSP, e em 5 de fevereiro de 2024, e seguiu para Fortaleza – CE a convite da Escola Porto Iracema das Artes, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), para nova partilha por meio do Ateliê Aberto de Dramaturgia, vinculado aos Programas de Formação Básica de Artes Cênicas e Audiovisual da Escola. A Oficina Figueira do Cambuci convida o coletivo, em 19 de março, para nova experiência de leitura na celebração ao Dia de São José, cuja apresentação gerou a primeira crítica, pelo site DeusAteu, de Márcio Tito.

A estreia nacional do espetáculo e o lançamento do livro-base da montagem, Um evangelho de José, de Marcos Barbosa, marcaram o encerramento do XV Festival de Teatro de Fortaleza, em 21 de junho, no Teatro São José, numa realização da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), em parceria com o Teatro Novo.

Ficha Técnica
Atuação e idealização: Otacílio Alacran / Dramaturgia: Marcos Barbosa / Direção: Marcos Azevedo / Música: Fábio Cintra / Preparação corporal: Élder Sereni / Iluminação: Domingos Quintiliano / Técnico teatral: Marcelo Amaral / Filmmakers: André Grejio e Sérgio Freitas / Fotos: André Grejio, Micaela Menezes e Nérido Martins / Produtora associada: Iza Marie Miceli / Apoio: Oficina Figueira do Cambuci e Tusp / Realização: AIAS do Brasil

Um Homem Chamado José

8 a 11 de agosto de 2024
Quinta a sábado, 20h; domingo, 18h
Tusp Butantã – Rua do Anfiteatro, 109 – Cid. Universitária (acesso pela direita do prédio, ao lado do bloco C)
Gratuito – ingressos no local 1h antes de cada sessão
12 anos – 90 min – 60 pessoas


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