Xenotransplante clínico já tem edição genética concluída no Brasil

Silvano Raia comenta projeto que está em fase de captação de recursos com o governo do Estado, para a construção de um biotério suíno, que atenda aos interesses dos órgãos reguladores

 10/02/2022 - Publicado há 2 anos
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Foto: Pixabay

 

Um americano foi o primeiro paciente no mundo a receber um transplante de coração de porco geneticamente modificado. O procedimento experimental foi realizado por profissionais do Centro Médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. David Bennett, de 57 anos, tinha uma doença cardíaca terminal e foi considerado inelegível para um transplante de coração convencional. Para Silvano Raia, Professor Emérito da Faculdade de Medicina da USP e primeiro cirurgião da América Latina a realizar um transplante de fígado em 1985, “o xenotransplante, além de salvar sua vida, representa um marco na história da cirurgia”.

Silvano Raia – Foto: Reprodução/Fapesp

Ele lembra que todas as tentativas de transplantar órgãos de animais em humanos não tiveram sucesso. “No que diz respeito ao coração, uma tentativa anterior, de 1984, transplantando um coração de babuíno em uma criança recém-nascida, não teve sucesso. A criança faleceu 21 dias após o procedimento. Um babuíno recebeu um xenotransplante de coração suíno e sobreviveu pouco mais de seis meses e foi sacrificado após a perda das veias de acesso, por onde eram administradas as drogas imunosupressoras.”  

Nos últimos 30 anos, doadores suínos passaram a ser mais valorizados, porque se aprendeu que modificações no seu genoma permitem resultados melhores. Em dezembro de 2020, a FDA (Food and Drug Administration) autorizou o xenotransplante suíno nos EUA. Raia cita que “agora a evolução do paciente transplantado em Maryland depende de novos imunossupressores capazes de controlar a rejeição aguda, a fase final dela e controlar a rejeição crônica”.      

Nos últimos 40 anos, os suínos têm sido valorizados no uso de seus órgãos para transplantes pelo seu fácil manuseio e pela tecnologia já sedimentada para sua criação. O doutor Raia lembra que, no Brasil, assim como em outros países, há uma falta de órgãos, o que faz com que surjam listas de espera. “Em 2019 estavam inscritos no Brasil 133 mil pacientes para transplante de rim, e foram transplantados apenas 6 mil, menos de 10%.” Buscando reverter essa situação, há quatro anos, Raia, juntamente com a professora e geneticista da USP Mayana Zatz, coordena um projeto que visa a modificar geneticamente suínos para se constituírem em doadores de órgãos: rim, coração, pele e córnea.

A fase de edição genética já está concluída, o que permite a produção dos primeiros embriões modificados, que serão transferidos para matrizes silvestres, produzindo os primeiros doadores. Ele destaca que atualmente está sendo pleiteado junto ao governo do Estado de São Paulo recursos para construir um biotério suíno MB2, que atenda aos requisitos dos órgãos reguladores correspondentes necessários para o xenotransplante clínico. “Vale salientar que não existe nenhum biotério desse tipo no Brasil e eu imagino também na América do Sul.” 


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