Voto da população mais pobre sofre influência da religião pentecostal

Na hora de votar, questões morais são mais importantes do que redistribuição de renda para esse grupo, aponta estudo de Victor Araújo

 20/03/2020 - Publicado há 4 anos

Um estudo do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da USP aponta a influência da religião pentecostal nas intenções de voto, especialmente nas parcelas mais pobres da população. Ao invés de votarem por mais direitos de redistribuição de renda, o fator moral faz com que candidatos mais conservadores ganhem popularidade dentre esses fiéis.

Jornal da USP no Ar conversou com Victor Araújo, responsável por essa pesquisa, sobre os impactos da religião na política. Ele explica que boa parte dos especialistas analisa a renda como principal fator para entender como e por que as pessoas votam, e por isso ele decidiu trazer a religiosidade como variável e explorar o impacto disso nas eleições.

O pesquisador considerou a população evangélica brasileira em dois grandes grupos, os evangélicos tradicionais e os pentecostais, e percebeu que existem diferentes estratégias de mobilização dos fiéis nesses diferentes tipos de crença. Pela sua análise, os líderes religiosos pentecostais mobilizam mais eleitores usando argumentos morais.

“Não é que os fiéis sejam irracionais na hora do voto, é que a moral se sobrevale a questões de renda. Apesar da maioria dos evangélicos pentecostais receber cerca de dois salários mínimos por mês, eles optam por votar em algum candidato que defenda a agenda da igreja deles ao invés de eleger algum político que defenda políticas de redistribuição de renda, o que é paradoxal”, explica Araújo. Outro fator que pode impelir os pentecostais é que eles já realizam trabalhos que produzem uma proteção social alternativa à oferecida pelo Estado, como, por exemplo, a promoção de vagas de emprego entre os frequentadores dos cultos.

A influência dos líderes das igrejas pode se dar de maneira direta, quando um candidato específico é recomendado como o mais adequado, ou indireta, quando certas candidaturas são relacionadas a forças malignas. Os partidos de esquerda enfrentam a maior resistência, segundo o estudioso, pois geralmente são esses grupos que apoiam causas mais progressistas: “Uma agenda que abrange discussões sobre aborto, união homoafetiva e legalização de drogas entra em conflito com os ideais morais da igreja, causando rejeição”.

Apesar de ter analisado esse cenário na conjuntura federal, Araújo acha possível que essa tendência se repita nas eleições locais deste ano. Saiba mais ouvindo a entrevista na íntegra.


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