“Uma em cada quatro pessoas terá um AVC ao longo da vida”

A afirmação é da neurologista Adriana Conforto, que diz ainda que um rápido atendimento pode bloquear o avanço do derrame cerebral e minimizar suas sequelas

 07/04/2022 - Publicado há 2 anos
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Estima-se que a cada três segundos uma pessoa no mundo sofra um AVC – Arte: Jornal da USP sobre imagens de Mohamed Hassan, Gerd Altmann e Pixabay
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O Hospital das Clínicas da USP em São Paulo, o Hospital Albert Einstein, também da capital, e o hospital São Rafael, em Salvador, estão realizando uma pesquisa sobre a recuperação da mão após um AVC. O objetivo do trabalho é testar o efeito de estimulação de um nervo para melhorar a fraqueza da mão, uma das sequelas causadas pelo derrame. “Há dois tipos de acidente vascular cerebral: o isquêmico, responsável por 80% a 85% dos casos, e o hemorrágico, em torno de 15% a 20%”, ressalta a médica Adriana Conforto, neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“O AVC isquêmico ocorre quando um trombo, um coágulo, obstrui uma artéria. Artéria é o vaso que leva o sangue que sai do coração para o cérebro. Ele contém oxigênio e glicose. Quando um coágulo obstrui uma artéria, pode faltar sangue para uma parte do cérebro e isso causa a morte dos neurônios. No AVC hemorrágico, uma artéria pequena, em geral, se rompe e há um extravasamento de sangue para dentro do cérebro ou para as meninges, as membranas que o envolvem”.

Estima-se que a cada três segundos uma pessoa no mundo sofra um AVC e que uma em cada quatro pessoas terá um derrame na vida. Por esse motivo, é muito importante conhecer os fatores de risco que podem ocasionar a lesão, que não ocorre de uma hora para a outra. “Embora não se apresente com sintomas repentinos, ela não ocorre por desencadeantes que apareçam de um dia para o outro; isso pode acontecer em alguns casos, mas, na maioria das vezes, a pessoa que tem um AVC tem fatores de risco que vão se estabelecendo ao longo de vários anos. Eles aumentam o risco de lesões nas artérias ou no coração, levando à formação de coágulos que podem se desprender e entupir artérias importantes para que o cérebro receba a glicose e o oxigênio.”   

Fatores de risco

Entre os fatores de risco para o AVC isquêmico está a idade, apesar de poder acontecer em qualquer faixa etária. Em 2019, foi verificado que 63% das pessoas com menos de 70 anos tiveram alguma lesão. A hipertensão arterial (pressão alta) pode contribuir para o problema. Por esse motivo, acompanhar e medir a pressão constantemente contribui para minimizar os riscos. Doenças cardíacas também podem causar o problema, além de arritmia, chamada fibrilação atrial, que facilita a formação de coágulos no coração. O fumo, diabete, consumo excessivo de álcool, obesidade, falta de atividade física e antecedente familiar de AVC são uma ameaça à saúde. O colesterol alto também pode aumentar os casos de alguns acidentes vasculares cerebrais. No AVC hemorrágico, os principais fatores de risco são: pressão alta, grande vilã da doença cérebro-vascular, consumo excessivo de álcool e antecedente familiar.

Adriana Conforto – Foto: Reprodução Youtube/Boa Vontade

Sintomas 

 Adriana destaca que os sintomas de um AVC ocorrem muito rapidamente. “Fraqueza, falta de força no braço ou na perna, formigamento em um dos lados do corpo, desvio de rima labial, a pessoa ficar com a boca torta de repente, dificuldade para falar, para enxergar ou ter a visão dupla repentinamente, dificuldade para caminhar ou bruscamente ter  uma falta de equilíbrio e vertigem.” Todos esses fatores podem ser indicação de um derrame. Uma dor de cabeça muito forte, como nunca tida antes, também pode ser um sinal. Quanto mais rápido o atendimento médico for feito, melhor. Basta ligar para o SAMU no telefone 192 e solicitar socorro. A neurologista enfoca que não dá para esperar um agendamento de consulta, é essencial o atendimento médico, já que isso reduz o risco de sequelas. O uso de medicação na veia pode diminuir em 30% a chance de danos graves, mas isso deve ser feito no máximo, de uma forma geral, em até quatro horas e meia depois do início dos sintomas. Buscando auxiliar em uma situação de emergência, há um aplicativo gratuito que pode ser instalado no celular, chamado AVC Brasil. Ele indica o hospital mais próximo, além de dar dicas quanto à prevenção.

Prevenção

Para minimizar as chances de um AVC, é sempre indicado medir a pressão arterial e fazer um tratamento adequado em caso de hipertensão, uma alimentação saudável com menos sal, açúcar, gorduras, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, realização de exames de sangue para detectar colesterol alto ou diabete e verificar se tem ou não arritmia cardíaca. Após um derrame, é necessário buscar o tratamento adequado para evitar uma nova crise. Adriana destaca que  “fraqueza no braço é um dos sintomas mais comuns. Mesmo após seis meses, até 50% a 60% dos pacientes podem apresentar dificuldades em realizar as atividades do dia a dia. Fisioterapia, fonoterapia e terapia ocupacional ajudam na recuperação.”

Você sabe identificar um quadro de AVC em andamento?  Existe uma regrinha muito simples. Usando a palavra SAMU, peça para a pessoa dar os seguintes passos:

S, de sorria – peça para a pessoa sorrir e veja se ela consegue e se a boca não apresenta distorção ou falta de movimento;

A, de abrace – peça para que a pessoa se movimente, levante os braços;

M, de movimento – peça para ela andar e até cantar, verificando porventura dificuldades e fala embolada;

 U, de urgência – chame rapidamente o auxílio médico para ajudar quem está em um processo de evolução do AVC.

Antes da pandemia de covid-19, o AVC era a segunda causa de mortes no Brasil. Em 2013, após um inquérito epidemiológico, estimativas apontavam que 568 mil pessoas apresentavam incapacidade grave, passando a depender de outras para realizar atividades do dia a dia. De pouco mais de dois milhões de pessoas com AVC, 1,6% eram homens e 1,4% mulheres. Uma estimativa de gastos, realizada em 2018, mostra que foram desembolsados R$ 286 milhões com internações pela doença. A mortalidade pelo AVC depende da gravidade, que vai desde uma lesão pequena a extensa e grave. A causa do derrame, idade e o tratamento também podem contribuir para aumentar o risco de morte.

Os interessados em participar da pesquisa Comparação entre os mecanismos subjacentes aos efeitos da estimulação repetitiva periférica sobre o desempenho motor do membro superior nas fases subaguda e crônica após o acidente vascular cerebral, para recuperação da mão, podem acessar o link http://redcap.link/restores ou deixar recado através da secretária eletrônica do número 2661-7955 ou 2151-3354 e falar com as enfermeiras Alda ou Karina. 


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