Turismo no Brasil necessita de conscientização do usuário e planejamento do poder público

Especialistas comentam ser necessário que os destinos turísticos pensem no estabelecimento de limites com a natureza e incorporação da cultura local

 01/02/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 04/02/2022 as 10:54
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Apesar de ser extenso e apresentar muitos destinos, no interior do País a atividade turística é menos valorizada do que em regiões litorâneas – Foto: Pedro Ribas/ANPr via Fotos Públicas
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O Brasil tem destinos naturais que atraem tanto turistas de regiões próximas como internacionalmente. Com tantas pessoas buscando esse tipo de atrativo, o cuidado com o ambiente e a preservação das culturas locais são imprescindíveis para que as regiões receptoras se desenvolvam de maneira sustentável.

É ideal que as empresas se preparem e pensem também nessa questão de desenvolvimento sustentável. Os turistas, por sua vez, devem estar conscientes da importância de se preservar o local, seja ambiental ou culturalmente.

 

Turismo predatório

 

Em alguns casos, como o ocorrido em Capitólio, Minas Gerais, onde houve o desabamento de um bloco de rocha, observa-se uma prática contrária a essa ideia de preservação: o turismo predatório. Isso ocorre quando, nos destinos de viagem, há o mau gerenciamento do lixo, falta de sinalização que estabeleça os limites da natureza, sobreposição de interesses comerciais à população local, dentre outros.

Sidney Raimundo – Foto: IEA

“Quando falamos de turismo de massa, de over tourism ou de turismo predatório, é a questão do foco no ambiente e nas comunidades locais, que sempre foram alijadas, mas nunca foram consideradas. E é nesse sentido que a palavra predatório aparece, porque o que ocorreu foi uma descaracterização ambiental dos espaços”, destaca Sidney Raimundo, que é professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

O professor explica que, no pós-guerra, o investimento em turismo se concentrou principalmente nas regiões litorâneas para incentivar um destino de “sol e praia”. “Ele acabou recebendo muito investimento para ampliar áreas de residências secundárias, mais hotéis, mais parques temáticos e isso sem nenhuma responsabilidade, a não ser um planejamento na lógica do investidor”, ressalta.

No interior do Brasil, apesar de ser extenso e apresentar muitos destinos, a atividade turística é menos valorizada, com apelo regional. Não é difícil, então, que haja destinos, como Capitólio, nos quais há pouca infraestrutura e cuidados tanto com a natureza quanto com as comunidades locais. 

Raimundo afirma também que os destinos no interior não têm esse apelo do litoral e merecem mais atenção. Isso “no sentido de pensar como incorporar, nos processos de planejamento, os limites da natureza e como que a gente igualmente incorpora os anseios e necessidades das comunidades locais”.

O professor prossegue explicando que, apesar disso, os turistas atualmente têm maior preocupação ambiental — tanto que buscam a natureza como destino de viagem para ficarem mais próximos a ela. “Há algumas décadas, o turista não tinha preocupação ambiental. O turista é um cidadão do século 21. Ele está antenado nas questões ambientais que ocorrem no planeta. Então, ele está até sedento de informações do ambiente que ele visita, sobre como ele é do ponto de vista das suas características naturais, sociais e culturais. Isso é fundamental.”

 

Conscientização no turismo

 

De fato, é importante estar antenado nas discussões ambientais, mas só isso não basta. O incidente ocorrido em Capitólio levantou outras questões que vão além da consciência ambiental sobre os destinos naturais: como está estruturado o turismo no Brasil, tanto para a prestação de serviços como para se obter informações a respeito desses destinos.

Débora Cordeiro – Foto: ECA USP

A professora Débora Cordeiro Braga, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, enfatiza que não há uma política federal que priorize o setor turístico. “Apesar de governos anteriores terem montado o Plano Nacional de Turismo, alguns deles foram meramente mercadológicos, para atrair grandes eventos, mas que não chegam ao cerne da questão, que é o planejar ou priorizar.” 

Com isso, é difícil que se estabeleça uma fiscalização e que os destinos de viagem, principalmente os naturais que existem no interior do Brasil, tenham a estrutura correta para receber os turistas. 

Então, como observar o local para onde estamos indo? No caso do turismo de aventura, por exemplo, há uma ABNT que fala do manuseio correto de equipamentos, de estabelecimentos de rotas e técnicas utilizadas para escaladas. Então, é importante sabermos se a empresa que presta tais serviços segue essas regras corretamente.

É necessário também que haja mais divulgação, já que, conforme a professora, mais pessoas estão buscando o turismo independente. Sendo assim, os dados sobre o setor de turismo são essenciais para a obtenção de informações a respeito dos destinos de viagem e toda sua estrutura.

Nesse sentido, Débora destaca o Portal de Inteligência do Turismo dos Municípios Paulistas, para o fortalecimento dos dados. “No programa dos municípios, nós estamos montando a inteligência da informação turística, para tentar concentrar todos os dados turísticos do Estado de São Paulo em uma única plataforma, seja para orientar investidores, seja para orientar turistas, seja para orientar algum morador local”, completa.


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