Um estudo estabeleceu o perfil dos afastamentos de trabalhadores técnicos e administrativos da USP por motivo de doença entre os anos de 2012 a 2016. Buscou-se analisar os afastamentos por transtornos mentais durante esse período e o contexto de trabalho sob a ótica do trabalhador. Como produto da pesquisa, foi proposta a formação de um grupo de trabalho para a elaboração de uma política de saúde mental do trabalhador e que ela seja submetida a consulta dos trabalhadores para incorporação de críticas, sugestões e melhoramentos, sendo institucionalizada somente após o crivo da comunidade USP. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Ariana Celis Alcântara, assistente social da Divisão de Saúde Ocupacional e professora do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, falou sobre a pesquisa.
O estudo se deu em duas partes. Primeiro, foi traçado o perfil dos afastamentos por motivo de doença dos trabalhadores administrativos. Depois, foi realizada uma pesquisa com os trabalhadores, com o intuito de saber a percepção deles sobre o adoecimento por causa do trabalho. Quase 700 funcionários foram entrevistados. As doenças do tecido osteomuscular e do sistema conjuntivo foram as doenças que afastaram um maior número de pessoas. Já os afastamentos por transtornos mentais foram os mais frequentes e em maior número de dias por pessoas que se afastaram. Isso quer dizer que as doenças por transtornos mentais são responsáveis por manter o servidor mais tempo longe. Ariana explica que dentro dos afastamentos por transtornos mentais, os episódios depressivos foram os que mais afastaram pessoas (1.043 casos). Ansiedade generalizada, estresse e transtornos mentais devido ao consumo de álcool também apareceram de forma significativa. Foi possível perceber ainda que mulheres têm mais chance de adoecer do que homens. Essas doenças também acometem principalmente trabalhadores acima de 50 anos.
Foram analisadas três dimensões do contexto de trabalho: organização, condição de trabalho e relações socioprofissionais. No quesito condição de trabalho, os trabalhadores se sentem seguros em relação ao ambiente físico, o que, segundo a pesquisadora, indica a presença da engenharia de segurança na Universidade. Porém, há a ausência de condições ergonômicas adequadas. Alguns profissionais pagaram do próprio bolso o custo do mobiliário adequado. Sobre a organização do trabalho, metade dos trabalhadores acha as tarefas repetitivas e o número de pessoas insuficiente para realizá-las. Para Ariana, as relações socioprofissionais são a parte mais preocupante. Os funcionários afirmaram sentir-se excluídos das decisões. Alguns relataram assédio moral, falta de habilidade da chefia, sobrecarga de trabalho, negativa de transferências e até tentativas de suicídio.
A pesquisa aponta que, quanto pior o servidor avalia sua relação socioprofissional, maiores são as chances de afastamento por doença. Quando a doença é de transtorno mental, essas chances aumentam ainda mais.
De acordo com a especialista, existem alguns canais para enfrentar esse problema, mas é necessário favorecer a participação dos trabalhadores. Os gestores devem propiciar momentos de escuta, discutir sobre a organização do trabalho, etc. Formação continuada, rodízio de gestores, acesso facilitado à informação, estimulação da carreira, entre outros aspectos, também contribuem para as relações socioprofissionais.
Nesta terça-feira (13), às 16h, ocorrerá um debate sobre o estudo realizado. O evento será no Anfiteatro João Yunes, na Faculdade de Saúde Pública da USP. Não é necessário se inscrever.