Transplante de útero experimental é testado para infertilidade

Especialista explica que procedimento é recomendável em último caso, devido aos riscos

 11/02/2019 - Publicado há 5 anos

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O transplante uterino é uma nova opção revolucionária para o tratamento de infertilidade em pacientes com útero que não pode ser recuperado cirurgicamente ou pacientes com ausência do órgão, retirados por meio de cirurgia ou ausência congênita. O fator uterino de infertilidade afeta uma em cada 500 mulheres em idade fértil em todo o mundo. A única opção de tratamento, até então, era o uso de útero de substituição, opção não viável a muitas mulheres por fatores religiosos, éticos e culturais. O transplante possui uma característica única dentre os procedimentos: é temporário. O órgão é mantido até a paciente conseguir gerar o número de filhos desejados e então ele é removido por histerectomia ou por descontinuação da imunossupressão. O primeiro transplante foi realizado na Arábia Saudita em 2000, em uma mulher de 26 anos que havia sofrido histerectomia puerperal. No Brasil, em setembro de 2016, a equipe de ginecologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em São Paulo, em colaboração com o grupo de transplante hepático da instituição, realizou o primeiro transplante de útero de doadora falecida, bem-sucedido, do Brasil e da América Latina.

Foto: Visual Hunt

O Jornal da USP no Ar conversou com o professor Edmund Baracat, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e pró-reitor de Graduação da Universidade. Baracat enfatiza que o procedimento ainda é uma técnica experimental. “Ela é uma cirurgia, um transplante, excepcional. Uma exceção, mesmo porque envolve uma série de riscos para a mulher. Quando falamos de um transplante uterino, não falamos apenas da retirada de um órgão de uma doadora — seja falecida ou em vida — e o implante na receptora. Isso é uma etapa do procedimento. O transplante uterino começa bem antes: temos que escolher uma mulher saudável, sem complicações clínicas. Quando selecionada, ela tem que passar por um tratamento de indução de ovulação. Um outro requisito é que a mulher tenha congelado, aproximadamente, dez embriões em bom estado.”

Além desses procedimentos que ocorrem antes do transplante, após a cirurgia a paciente deve tomar medicamento imunossupressor para diminuir a chance de rejeição e realizar acompanhamento ginecológico, evidenciando a complexidade e delicadeza que todo o processo antes e depois do transplante uterino requer. “Depois de seis meses, a paciente recebe a transferência de embrião. Então, o útero tem que ser preparado para  receber esse embrião. E ele é preparado com um esquema especial de reposição hormonal”, explica o professor Baracat. Após a gravidez consumada, o obstetra passa a acompanhar a gestação, como já ocorre. O especialista enfatiza que o caso realizado pela equipe do HC e da FMUSP foi o primeiro do mundo de doadora falecida e com sucesso.

Com o nascimento do bebê, o útero é retirado. “Porque as condições dele, com o passar do tempo, de vascularização, de irrigação sanguínea, podem ficar comprometidas. E a paciente tem que fazer  o tratamento com imunossupressor, o que é delicado. Ela tem que ficar em casa, evitar contato externo — praticamente nenhum — porque ela corre o risco de infecção. A nossa paciente ficou quase dois anos em imunossupressão”, diz o especialista. Vale ressaltar que o transplante uterino não é a técnica prioritária a ser recomendada em caso de infertilidade. “Antes disso, nós temos o útero de substituição, que tem as condições bem estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, nós temos a adoção e a terceira opção seria — em casos muito bem selecionados — o transplante uterino”, completa o professor da FMUSP.


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