Taxa da inflação é a mais baixa desde maio de 2018

Heron do Carmo diz que queda no preço de alimentos e combustíveis ajudou a desacelerar o indicador

 10/07/2019 - Publicado há 5 anos
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do País, ficou em 0,01% em junho, a menor taxa para 2019, segundo divulgou nesta quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o índice acumula alta de 2,23% no 1º semestre e de 3,37% nos últimos 12 meses, permanecendo bem abaixo da meta de 4,25% definida pelo governo para o ano. Trata-se da taxa mais baixa desde maio de 2018 (2,86%), o que deve aumentar as apostas de cortes na taxa básica de juros, atualmente em 6,5% ao ano. O resultado foi menor que a prévia de 0,06%. Queda no preço de alimentos e combustíveis ajudou a desacelerar o indicador. Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional  definiu meta de inflação de 3,5% para 2022.

O Jornal da USP no Ar entrevistou o professor Heron do Carmo, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e membro da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Antes do resultado oficial, o economista já considerava a prévia de 0,06% de inflação acumulada para junho uma boa notícia. “Não só a crise é responsável por estes números. É um sinal da consolidação do Real ao longo do tempo. Na história da moeda, seu valor decresceu 507%. O que compramos hoje com R$ 60, em 94 comprávamos com R$ 10. É uma inflação igual à dos três primeiros meses de 1990”,  afirma.

Para Heron do Carmo falta atuação do Estado, sobretudo em infraestrutura

No mesmo período do ano passado o índice sofreu influência da greve dos caminhoneiros, quando chegou à casa de 1,26% para o mês. O docente conta que o meio do ano é uma época de baixa inflação, normalmente. Ele explica que fora alguma variação anormal de produtos com valores muito flutuantes, como combustíveis, feijão e tomate, a inflação deve fechar o ano abaixo dos 4%. “Deve ficar perto dos 3,8%, ainda abaixo da meta. Um resultado de referência para um país como o Brasil seria na casa de 3%”, alega.

Segundo o economista, uma inflação nesse nível possibilitaria menores taxas de juros, facilitando investimentos futuros. “Usando como referência taxas do governo, o boletim Focus, agentes do mercado e consultorias, dá para se prever uma queda de 1% da Selic (taxa básica de juros). De 6,5% para 5,5%. Descontada a inflação, a taxa de juros está entre 2% e 2,5 %. Um dos menores valores nos últimos 50 anos.

O professor lembra da máxima do economista Milton Friedman: “Inflação é taxação sem legislação”. “Funciona como imposto. E é prejudicial justamente para os mais pobres, que sequer têm proteção. Não podem se prevenir com aplicações financeiras, então sofrem”, esclarece. Conforme Carmo, o problema crítico do Brasil é o desemprego e a situação seria ainda mais grave aos vulneráveis, em caso de uma moeda instável.

“Passada essa fase da reforma, é fundamental que o governo volte a atuar para reativar a economia brasileira. Falta atuação do Estado, sobretudo em infraestrutura. Um gasto saudável que cria futuro”, defende o economista. De qualquer maneira, o especialista não espera retomada do desenvolvimento este ano. “Não haverá redução expressiva do desemprego, e o crescimento deve ser de cerca de 1%, talvez abaixo disso. A inflação continua baixa e arrumar a casa agora pode levar a uma melhora já no próximo ano” diz.


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