Socialização quando criança é a base para a construção de um repertório social

Segundo a psicoterapeuta Telma Pantano, as crianças muitas vezes se desorganizam frente ao imprevisto. Nesse momento, nada mais importante do que ensinar a elas modelos de interação social

 16/11/2022 - Publicado há 1 ano
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É preciso ter e entender que socializar envolve confusão também, o não entender, não ser compreendido, não ser aceito – Fotomontagem com imagens de Freepik

Desde que nascemos passamos por um processo de socialização. Isto acontece em casa, no convívio com a família, na escola, nas brincadeiras com os colegas e em várias outras atividades coletivas ou não. Hoje essa realidade mudou, há um grande “vilão” nessa interação, as novas tecnologias. Telma Pantano, fonoaudióloga e psicoterapeuta do Instituto de Psiquiatria da USP, destaca que falar sobre socialização não é um processo muito simples, porque se tende a considerar que o ser humano é um ser social. ”O ser humano é um ser social, sim, mas ele precisa aprender as regras, as condições e o que envolve essa socialização, e esse processo tem de ser feito desde muito pequeno. Se a gente não estimular essa relação, a gente pode ter muita dificuldade nessa construção.”

Para a psicoterapeuta, a chave para tudo isso é considerarmos o desenvolvimento da socialização infantil. “Não basta colocar as crianças em volta ou próximas umas das outras, em um ambiente social como se isso acontecesse naturalmente e as crianças aprendessem de forma natural. É preciso ter e entender que socializar envolve confusão também, o não entender, não ser compreendido, não ser aceito, envolve aprender até a ter o seu espaço individual para que possa socializar e entender esse convívio com o outro.”

Diferenças

Telma Pantano – Foto: Reprodução/LinkedIn

Hoje em dia, a realidade infantil é bem diferente da de anos atrás. Antigamente, muitos moravam em casas, tinham liberdade para brincar na rua e muitos outros locais com as mais diversas formas de interação. Agora é comum morar em apartamentos, com espaços limitados, além de outras várias mudanças. “Quando pensamos em escolas, essas crianças também estão em espaços mais restritos, com atividades motoras mais restritas. A socialização como consequência de tudo isso também está passando por um processo de adaptação.”  

A professora Telma lembra que a socialização cada vez mais está envolvendo menos contato físico. Ela destaca que o grande papel das escolas e dos ambientes de socialização é envolver o reconhecimento do outro, a empatia, o respeito. Isso permite que se entenda o que o outro sente, permite que a criança se coloque de uma forma respeitosa, o que ela pensa ou sente, para que possa interagir socialmente e não colocar suas regras, suas condições, suas brincadeiras ou se submeter  às condições de uma outra pessoa. “A nossa sociedade considera que socializar é estar junto. Não necessariamente. Eu tenho que estar junto, mas eu tenho que estar seguro, eu tenho que saber quem eu sou, eu tenho que saber me colocar, eu tenho que ter uma boa autoestima para interagir de uma forma saudável. Na infância, a socialização pode envolver um objeto, normalmente um brinquedo, ou uma pessoa que intermedia essa relação. A partir disso o menor aprende diversas situações que vão ajudar no seu crescimento.”                             

A professora Telma destaca que “para socializar é preciso ter: oportunidade, momentos em que isso aconteça, modelos e mediação”.  Nem sempre essa convivência ocorre de forma saudável quando há uma patologia envolvida, aí é necessário que isso seja aprendido e, se for preciso, introduzida uma ajuda profissional. Padrões prontos e artificiais são os responsáveis por, muitas vezes, ocorrer essa fragilidade na construção de uma socialização saudável. “As crianças muitas vezes, e principalmente os adolescentes, se desorganizam frente ao imprevisto. Nesse momento, nada mais importante do que ensinarmos modelos de interação social, de reação, de comportamento social e aumentar o repertório deles ao lidar com o outro, seja na mesma faixa etária, maior ou menor. O que a gente pode, o que a gente não pode, como que a gente interage. Tudo isso a gente pode provocar a partir da construção desse repertório social.”


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