Ouça a entrevista do professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, à repórter Sandra Capomaccio:
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Ao comentar, em entrevista à Rádio USP, a divulgação das notas por escola da edição do ano passado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o professor Ocimar Alavarse (coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – FEUSP) afirmou que “há uma debilidade na formação da nossa juventude, e isso não é democrático”.
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), ligado ao Ministério da Educação (MEC), divulgou recentemente as notas de 1.212.908 estudantes de 14.998 escolas. O critério de divulgação inclui todas as escolas em que pelo menos 50% dos estudantes matriculados no terceiro ano do ensino médio participaram do Enem 2015.
Das cem escolas com as maiores notas, só três são públicas, todas elas da rede federal, o que evidencia a diferença existente entre o ensino público e o particular: nove em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média nacional. Uma outra constatação é a de que a média dos alunos caiu em três áreas do conhecimento: Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática, mas melhorou em Ciências Humanas e Redação.
Para o professor Alavarse, “os resultados mantêm uma tradição de diferença entre as escolas pública e privada”. A partir da política de cotas adotada pelas universidades federais, que estipula que metade das vagas de cada curso seja destinada a alunos oriundos de escolas públicas, as escolas privadas passaram a intensificar a preparação de seus alunos para o Enem, o que acabou por acentuar a divisão entre o ensino público e o privado, a qual, por sua vez, reflete o abismo socioeconômico do próprio País.
“Nós não resolvemos esses problemas sociais com medidas pedagógicas, como é o caso do Enem”, afirma o especialista. Para ele, é preciso “mudar as condições em que as escolas trabalham, assim como as condições em que os professores são formados”. Alavarse também faz restrições à proposta do governo federal de promover reformas no ensino médio, “uma medida absolutamente equivocada, porque não incide na origem dos problemas”, e que deve intensificar a segregação.
“O grande problema”, diz, “não está no ensino médio, mas no ensino fundamental”, razão pela qual ele defende uma articulação do governo federal com as esferas estadual e municipal na tentativa de alterar essa realidade, investindo na formação de professores – “ainda o elemento mais importante do processo pedagógico” – e na melhoria da infraestrutura das escolas, uma vez que várias delas não possuem sequer laboratórios. Tudo isso colabora para que 60% das escolas públicas não tenham divulgado seus resultados no Enem, uma vez que não atingiram o limite que estipula um mínimo de 50% de seus alunos efetivamente participando do exame.