Reconstrução facial tem um importante papel na arqueologia e na área criminal

Embora com diferentes propósitos, reconstituição do rosto é feita a partir do crânio e características individualizantes são fundamentais

 01/03/2023 - Publicado há 1 ano
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As técnicas exigidas pela Reconstrução Facial Forense variam conforme o método utilizado – Foto : Simone Macedo Ramos / policiacientifica.sc.gov.br

A Reconstrução Facial Forense, também chamada de Aproximação Facial Forense, é uma técnica de reconstituição do rosto de uma pessoa morta, levando em conta o crânio e informações presentes no resto do esqueleto, quando disponível. “Pode ser entendida como aplicação de uma série de técnicas relacionadas à área de anatomia e antropologia que busca, a partir de um crânio, resgatar a sua face, e esse reconhecimento possibilita o encontro de novas informações para que ele seja identificado“, explica Rodolfo Haltenhoff Melani, da Faculdade de Odontologia da USP, e também coordenador do Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense.

Processo

As técnicas exigidas pela Reconstrução Facial Forense variam conforme o método utilizado: manual e digital. O primeiro é feito sobre o crânio de fato ou uma cópia de resina, no qual a massa de modelar ou argila são moldadas para replicar a face do indivíduo.

Melani explica o modo digital: “A técnica digital requer a imagem do crânio, que pode ser obtida por meio de uma tomografia ou pela chamada fotogrametria (tomada de sucessivas fotografias do crânio em diversos ângulos). Essas imagens são manipuladas e utilizadas em programas computacionais de modelagem tridimensional, ou seja, o que se realiza manualmente, se realiza digitalmente”. Melani acrescenta que, evidentemente, existem vantagens como a agilidade no meio digital, porém, as duas abordagens necessitam dos mesmos estudos de posicionamento das estruturas faciais.

Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A análise de diversos dados fazem parte da reconstrução, sejam eles relacionados às estruturas ósseas ou àqueles que necessitam da participação de outros tipos de estudo. A identificação do sexo, idade, modificações na parte odontológica pode ser obtida pelo esqueleto e são fatores que ajudam a individualizar na hora da Aproximação Facial Forense: “Existem também pesquisas específicas que envolvem estudos populacionais para determinar a espessura da pele, dos músculos e da composição da gordura nas diversas regiões da face, estendendo-se, inclusive, para estudos de verificação da posição dos olhos, da forma e tamanho do nariz, dos lábios e da orelha, buscando aplicar a estrutura mais compatível para o crânio que está sendo avaliado, o que tornará a reconstrução da face muito mais precisa”, acrescenta o professor da Faculdade de Odontologia da USP.

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Criminal

Existe uma diferença entre identificar e reconhecer: o primeiro diz respeito à comprovação científica de que o crânio pertence à pessoa, já o segundo corresponde somente à análise superficial do rosto, geralmente, por indivíduos próximos da vítima. 

Melani comenta o papel da reconstrução no ponto de vista criminal: “A Reconstrução Facial Forense é uma ferramenta que pode auxiliar no reconhecimento e trazer, como consequência, a identificação da pessoa, permitindo avançar nas investigações do caso. Eu diria que existe um outro aspecto de grande importância social: há uma abordagem interessante que fala que a dúvida é pior que a morte, porque a dúvida é incansável. Esse sentimento envolve os parentes e amigos, parece-me ser essa uma contribuição social inestimável da perícia: o encontro da ciência com o sentimento humano“. 

Arqueologia 

A área arqueológica utiliza os procedimentos semelhantes aos da criminal, mas possui algumas características específicas, já que a localidade é um fator fundamental, como explica o professor André Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP: “O grande desafio dessa técnica são as características individualizantes. Uma parte importante é a origem geográfica: se a pessoa possui características físicas específicas de certas regiões. Isso não está presente nas técnicas de Reconstrução Forense, propriamente ditas, precisa ser informado por outras análises como as antropométricas“.

André Strauss – Foto: Reprodução

No caso da arqueologia, Strauss comenta que a Reconstrução Facial Forense possui uma grande importância na divulgação científica dos feitos arqueológicos: “A importância da reconstrução facial na arqueologia é muito mais de divulgação científica. Raramente vai trazer alguma informação nova propriamente dita, porque, de forma geral, as características individualizantes que, num contexto forense ou criminal, poderiam ser extremamente importantes, no caso arqueológico esses fatos vão ter apenas relevância do ponto de curiosidade. O que a gente está mais interessado é na origem geográfica das populações”. Assim, as reconstruções faciais têm um papel muito mais importante na divulgação de modelos e hipóteses arqueológicas do que na geração: elas funcionam como desenhos esquemáticos, como uma síntese gráfica de hipóteses geradas por outras técnicas.

 


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