Reconhecimento de Jerusalém por Trump aumenta temperatura no Oriente Médio

Professores da USP refletem sobre a polêmica atitude do presidente norte-americano

 13/12/2017 - Publicado há 6 anos

Ao que parece, Donald Trump não para de fazer trapalhadas. A última delas foi a decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, o que provocou protestos na Indonésia, Jordânia, Turquia e Paquistão e confronto entre palestinos e forças israelenses. Até mesmo países aliados dos EUA, como França e Inglaterra, manifestaram-se contrários à postura do governo norte-americano, que parece ter ignorado o fato de que a Palestina reivindica a parte oriental de Jerusalém como capital de seu Estado.

Foto: Shealah Craighead / White House via Fotos Públicas

Ariel Finguerut, pesquisador do Grupo de Trabalho Oriente Médio Mundo Muçulmano, do Laboratório de Estudos Asiáticos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, lembra que negociações históricas foram desenvolvidas a partir, justamente, da proposta de divisão de Jerusalém. O que significa dizer que todo o processo de paz e o reconhecimento internacional consolidaram-se em torno do pressuposto de que aquela cidade histórica fosse a capital tanto do estado palestino quanto do estado israelense.

Segundo Finguerut, quando os EUA decidem mover sua embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, comprometem essa negociação histórica e abdicam do papel de principal mediador entre os dois lados, o que, por tabela, compromete o processo de paz na região, posição com a qual concorda o professor do Departamento de História da FFLCH e membro do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, Peter Demant.

Na opinião deste, a posição de Trump, ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel, só dificulta a busca de uma solução de paz para a região, por si só tão conturbada. Ele entende que o impasse só vai ser resolvido se um dos lados conseguir fazer alguma concessão, e observa que a manobra do chefe de governo norte-americano prejudica a imagem dos Estados Unidos e se opõe francamente à posição adotada pela ONU (Organização das Nações Unidas), que já se pronunciou no sentido de não ver alternativa  para esse caso que não seja a convivência de dois estados naquela região.

Foto: Jonas Hansel via Flickr – CC

Embora se diga preocupado com o histórico de radicalização, que sempre foi uma característica da região, Demant não acredita em um conflito armado entre palestinos e  israelenses, pelo menos no momento. Como lembra o professor Samuel Feldberg, do Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP, o mundo árabe está envolvido com uma série de outras questões para pensar  na eventualidade de uma guerra. Para ele, a atitude de Trump poderá até ajudar na retomada das negociações de paz ao forjar uma relação de confiança com os israelenses. Pondera, no entanto, ser difícil prever os desdobramentos, uma vez que a questão política é muito significativa e há muita polêmica em torno da atual situação.

Na opinião de Feldberg, o elemento mais importante, e talvez mais significativo, tenha sido o reconhecimento, por parte dos EUA, do vínculo ancestral do povo judeu com a cidade de Jerusalém, por um lado, e, por outro, do efetivo funcionamento de Jerusalém como a capital do estado israelense desde sua criação.


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