Reabilitação fonoaudiológica melhora qualidade de vida de queimados graves

Dicarla Magnani explica que o tratamento ajuda tanto os pacientes atendidos precocemente como aqueles que passam por intervenção tardia em seu processo de recuperação

 14/08/2020 - Publicado há 4 anos

O Jornal da USP no Ar conversou com a professora Dicarla Motta Magnani, especialista em Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina (FM) da USP, sobre seu trabalho com a reabilitação fonoaudiológica de pacientes com queimaduras graves nas regiões da face e do pescoço, realizado no Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC). Ela explica que seu primeiro contato com esses pacientes se deu em 2008, no curso de especialização em funções da face, no próprio HC. “Naquela época, havia na literatura alguns relatos sobre alterações de abertura oral, da mímica facial, por exemplo, mas sempre focados em quais eram essas alterações. Isso apontava para uma necessidade de aumentar os estudos na área de fonoaudiologia para reabilitação.” 

Como o Hospital das Clínicas é um centro de tratamento de queimaduras, para onde os pacientes são encaminhados assim que sofrem os acidentes, a fonoaudiologia é usada nos tratamentos já na fase aguda, quando o paciente é internado. Apesar disso, muitos dos pacientes tratados têm intervenção tardia, ou seja, recebem o tratamento depois de um certo tempo do acidente, ou no período de acompanhamento “das sequelas causadas pela queimadura”.

Para verificar os efeitos da terapia fonoaudiológica, que faz parte de uma equipe multidisciplinar, foi feito um estudo avaliando tanto pacientes que tiveram uma intervenção precoce, com até um ano de queimadura, quanto aqueles que foram atendidos tardiamente, já que, muitas vezes, “esses pacientes não chegam de imediato para o tratamento de sequelas”, explica Dicarla.

Nesse estudo foram feitos dois grupos: pacientes de até um ano depois da queimadura e pacientes com mais de um ano após a queimadura.“Nos dois, os pacientes tinham queimaduras graves, de terceiro grau, na região da cabeça e do pescoço”, explica a professora. O programa terapêutico, de oito sessões, avaliou melhora importante, em ambos os grupos, da abertura oral e da lateralização mandibular, por exemplo. “Ambos os grupos apresentaram melhora, o que foi importante para a literatura. Pudemos concluir que, caso o paciente esteja num período mais tardio, ele também pode se beneficiar com a reabilitação fonoaudiológica.”

A professora finaliza dizendo que o tratamento impacta, inclusive, na qualidade de vida dos pacientes, já que altera não só funções como a mastigação, mas até a fala. “Isso impacta no convívio, nas inter-relações, já que as queimaduras dificultam, em diversos casos, a retomada à vida normal”, explica. 

Segundo ela, no atendimento fonoaudiológico, grande parte dos pacientes vem de tentativas de suicídio, ou de homicídio causado por violência, por isso há também um apoio direto da equipe de psicologia. “A terapia da fonoaudiologia é o que a gente chama de terapia cognitiva. Eu preciso da cooperação do paciente para que ele faça os exercícios necessários, por isso a equipe multidisciplinar é fundamental para a recuperação da qualidade de vida”, completa. 

Ouça a íntegra da entrevista no player.


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