Questões de ordem eleitoral forçam saída do ministro da Saúde

Para José Álvaro Moisés, motivos da demissão de Mandetta vão além do aspecto técnico e também têm a ver com queda da popularidade do presidente

 17/04/2020 - Publicado há 4 anos

Na tarde de ontem (16), as expectativas se concretizaram e o ministro Luiz Henrique Mandetta deixou o Ministério da Saúde. Horas depois, Nelson Teich, escolhido para substituí-lo no cargo, fez pronunciamento no Palácio do Planalto ao lado do presidente Jair Bolsonaro. O colunista e professor José Álvaro Moisés analisa o fato em entrevista ao Jornal da USP no Ar.

Mandetta foi demitido num momento em que surgia como a principal liderança do governo no combate à crise do coronavírus. Uma decisão claramente arriscada: “Requer muita confiança de que o novo ministro vai desempenhar o que é necessário para defender a vida dos brasileiros. É como se estivesse trocando o piloto de um grande avião por um outro piloto no meio do oceano, não é uma coisa comum, não é uma coisa simples”, aponta o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

O novo ministro, respaldado por tamanha confiança do presidente, em seu primeiro pronunciamento citou, diversas vezes, que o Brasil deve realizar mais testes; porém, segundo o colunista, o País não possui condições para realizá-los em massa, e o ministro não apresentou solução para transpor tal desafio. Outro momento importante da fala de Teich foi relacionada ao isolamento social: “Não haverá mudanças bruscas”. Para Álvaro Moisés, “não ficou inteiramente claro. Por um lado, ele falou que não vai ser brusco, então não vai acabar agora [o distanciamento] — ele inclusive é autor de um artigo a favor do isolamento —, tem que ver como ele vai fazer para se alinhar ao presidente”.

As dissidências ideológicas entre Mandetta e Bolsonaro eram enormes. Porém, o professor da FFLCH apontou que os motivos da demissão do médico não estão relacionados apenas ao aspecto técnico: “Se revela no posicionamento do Bolsonaro que há outras coisas por trás disso. Tenho a impressão de que há interesse de ordem eleitoral, já que uma piora da economia resultaria na decadência da popularidade dele, sendo que esta já vinha em queda, enquanto a de Mandetta apenas crescia”.

Ouça a íntegra da entrevista no link acima.


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