Queimadas na Amazônia tendem a ser mais intensas este ano

O alerta é do professor Pedro Luiz Côrtes, para quem o governo está agindo de forma tardia no combate à ação dos grileiros; estes, por sua vez, mostram-se bastante organizados

 24/04/2020 - Publicado há 4 anos
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Mais uma vez, o governo fará uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia. Diferentemente de 2019, quando a operação ocorreu em agosto, agora ela se iniciará em 3 de maio. No ano passado, o Brasil teve 89.178 focos de incêndio e o motivo da antecipação da operação se deve ao fato da tentativa de reduzir as queimadas e o desmatamento nos Estados que possuem cobertura da floresta amazônica, no seu período de seca, que vai de maio a setembro.

Para comentar o assunto,  o Jornal da USP no Ar conversou com Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Ele explica o processo de desmatamento da floresta vai desde grileiros que derrubam árvores de alto valor comercial e vendem a madeira no mercado ilegal até o período de seca para atear fogo na vegetação restante. Como resultado, há uma nova área para pasto de gado bovino ou plantações de grãos, principalmente soja.

Os alertas do corte seletivo e preliminar de árvores maiores apontam aumento significativo nos três primeiros meses de 2020, maior que 50%, em relação ao mesmo período de 2019. “Isso significa que a temporada de queimadas tende a ser muito mais intensa que a do ano passado”, destaca. Na sua avaliação, o governo está agindo de forma tardia, já que ele deveria fazer acompanhamento com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), atualizados constantemente em seu site. “[Assim] o governo não pode argumentar, como no ano passado, que ele não tinha sido informado.”

“Desde que esse governo [Bolsonaro] assumiu, verificamos um desmonte no Ministério do Meio Ambiente”, avalia Pedro Côrtes. Para a operação de maio, o Ministério contará com apoio das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), já que, desde o início do atual mandato presidencial, houve uma redução da capacidade de fiscalização e suporte da Polícia Federal (PF). “Quando se coloca a necessidade do uso das Forças Armadas, mais equipada que a PF, isso mostra um agravamento da situação.” A atuação dos grupos de grileiros se mostra muito organizada, com equipamentos e pessoal, constituindo-se como milícias para garantir posse dos territórios da União na floresta.

O professor lembra que essa é uma atividade semelhante ao que acontecia com os grandes narcotraficantes colombianos e também, hoje, no México. No Brasil, a configuração vai além do fortalecimento de grupos de grileiros com arsenal de armas. “Não é só um poder paramilitar. Normalmente, isso se estende para ações políticas, influenciando na eleição de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e representantes no Congresso Nacional.”

Ouça a entrevista completa no player acima.


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