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A Amazônia está em chamas e a questão da destruição da floresta ganhou muita força e chamou atenção da comunidade internacional nas últimas semanas. Desde que dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram um aumento nos focos de queimada na Amazônia, todas as atenções se voltaram para aquela região, para o bem e para o mal.
O governo, inicialmente, negou os dados e demitiu Ricardo Galvão, diretor do Inpe. Depois, afirmou, sem prova alguma, que as queimadas eram culpa das ONG’s. Por fim, entrou em disputa diplomática com vários países ー principalmente a França, a Alemanha e a Noruega. A Alemanha, por exemplo, suspendeu o repasse de R$ 151 milhões para o Fundo Amazônia, e a Noruega, mais de R$ 130 milhões.
E a floresta continua pegando fogo. O mês de setembro começou com quase mil focos de queimadas na Amazônia. De janeiro até o dia primeiro de setembro, a Amazônia acumula 47.805 focos de queimadas, contra 23.045 focos no mesmo período do ano passado. É mais que o dobro. Dados do início de agosto mostram que, nos últimos 12 meses (até 31 de julho), a Amazônia perdeu 5.879 quilômetros quadrados, 40% a mais do que um ano antes. O governo federal acenou com a possibilidade de usar as Forças Armadas no combate ao fogo, mas a situação continua crítica.
Para responder questões sobre a Amazônia, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu Paulo Artaxo, professor sênior do Instituto de Física (IF) da USP, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e coordenador do Programa Fapesp de Mudanças Climáticas Globais. Também falou Edson José Vidal da Silva, professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, que atuou por 14 anos como pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Paulo Artaxo diz que há várias facetas envolvidas que devem ser consideradas: climáticas, ambientais, socioeconômicas, entre outras. Do ponto de vista climático, a Amazônia é uma região estratégica para o planeta, pois armazena carbono e é um grande regulador climático, particularmente para a América do Sul. O Brasil já desmatou 20% da floresta original, o que pode ser observado de duas formas, como diz Artaxo: pode-se chorar pelo perdido ou estudar medidas para preservar os 80% restantes. Levando em consideração a segunda opção, é preciso criar políticas públicas e reduzir o desmatamento, fator possível, desde que haja vontade política e ações organizadas para tal.
Edson José Vidal da Silva comenta que o desastre não começou agora, mas vem de vários outros governos devido à falta de políticas, visando ao melhor aproveitamento daquela região. Além disso, não há respeito aos modos de vida daqueles que moram na região, como indígenas e ribeirinhos, que dependem do recurso florestal. O professor acredita que há alternativas, mas que o estímulo não tem acontecido. “O Brasil nunca foi tratado como um país florestal, mas ele é e tem que ser tratado de forma diferenciada”, completa.
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Paulo Artaxo explica que há uma visão atrasada do agronegócio de que se precisa de terras para plantar e aumentar a produtividade agrícola; no entanto, existe um espaço enorme em áreas já desmatadas que pode ser utilizado. Entre os programas para desenvolver uma Amazônia mais sustentável, criou-se o Fundo Amazônia, que financiava projetos piloto para a região, em que era permitido a exploração da floresta sem destruí-la.
Estava sendo uma experiência de sucesso, mas a atual visão política barra o desenvolvimento. Edson Vidal diz que os porta-vozes de hoje não conseguem se entender. Ele explica que o Fundo Amazônia foi como um prêmio para o País, juntaram-se sete Ministérios trabalhando em cooperação e realmente diminuiu o nível de desmatamento, conseguindo também o auxílio de países estrangeiros. O professor acredita que a forma de recuperar seria recomeçando, já que a visão do governo é predatória para a região. “Temos que ser os guardiões daquela biodiversidade.”
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