Projeto permite reduzir em até 70% consumo de cimento na construção civil

Vanderley John, professor da Poli, participante de grupo internacional de pesquisadores, fala sobre o projeto – que também permite reduzir as emissões de CO2 – em artigo publicado na revista “Nature”

 05/10/2020 - Publicado há 4 anos
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O Jornal da USP no Ar recebeu hoje (5) Vanderley John, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica (Poli) da USP e coordenador do Laboratório de Microestrutura e Ecoeficiência de Materiais (LME), para tratar de uma nova abordagem envolvendo a cadeia de materiais à base de cimento, que pode mitigar em até 50% das emissões de CO2 sem exigir expressivos investimentos ou elevação de custos. 

Essa pesquisa foi abordada em artigo recente, publicado na revista Nature por um grupo internacional de pesquisadores, dentre eles o professor Vanderley John. Ele explica que os estudos sobre a contribuição do cimento nas mudanças climáticas são bastantes antigos. Com a demanda cada vez maior por produtos à base de cimento, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, começou-se a buscar alternativas para a construção civil. “Toda a pressão, controle e responsabilidade têm sido colocados sobre a indústria, deixando de lados os outros membros dessa cadeia produtiva. O que decidimos fazer é olhar para toda a cadeia”, explica John. 

O grupo parte da constatação de que o uso do cimento é feito de forma pouco eficiente. Segundo ele, parte significativa do cimento mundial é comercializado em sacos, comprado por pessoas sem conhecimento técnico adequado e usado com sucesso para fazer as “habitações autoconstruídas”. Para John, políticas públicas que incentivem a comercialização de cimento em produtos industrializados, como argamassa e concreto, e não em sacos, podem permitir que se consiga o mesmo produto usando menos cimento, pois existe controle da produção. 

“Esse projeto permite fazer concretos e argamassas usando até 70% menos cimento, por meio de uma tecnologia que utiliza modernas técnicas de caracterização de materiais”, explica o professor. “Testamos em um projeto experimental no campus. Conseguimos reduzir em 54% o consumo de cimento e em 52% a pegada de CO2, o que significa uma redução de 29 toneladas de gás carbônico.” Ele reforça que essa tecnologia é viável em um mercado industrializado e profissional. “Os profissionais sem equipamento ou conhecimento não vão conseguir lidar com isso. Por isso, insistimos na importância de se industrializar a cadeia e investir em inovações”, afirma. 

No Brasil, segundo John, há condições de se implementar essas tecnologias. Porém, serão fundamentais investimentos na área. “Precisa-se mudar as matérias-primas, as quais são essenciais e são usadas em grandes quantidades, como água e areia; investir um pouco mais na formação de recursos humanos; adquirir equipamentos laboratoriais melhores. Isso tudo demanda tempo também”, explica ele. Apesar dos contatos avançados com parceiros dos Estados Unidos e da Europa para o uso dessas tecnologias, para o professor, as perspectivas para o mercado brasileiro não são das mais animadoras. 

Ouça a íntegra da entrevista no player.


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