Programa espacial brasileiro tem falhas na divisão civil-militar

Diretor do INPE afirma que satélites brasileiros são importantes, mas que o país ficou para trás

 04/06/2018 - Publicado há 6 anos

jorusp

No final da década de 80 e começo da de 90, o Brasil construiu seus dois primeiros satélites inteiramente nacionais. Eles eram simples: colhiam e transmitiam informações, mas eram os primeiros passos do país, e com eles vieram conhecimentos sobre a produção da tecnologia, como no tratado CBERS, assinado junto à China (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, em português). Para o Professor Ricardo Magnus Osório Galvão, do Instituto de Física (IF) da USP, e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o que dificultou o desenvolvimento espacial no Brasil foram as deficiências na estruturação do próprio programa: a divisão entre a parte de lançamentos ficou a encargo militar, enquanto  a civil ficou a encargo do INPE. Segundo Galvão, nunca ficou claro como o programa seria comandado, caso contrário, hoje, o país teria uma situação melhor na área.

Galvão conta que o país, apesar de ter posicionamento geográfico favorável ー como o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, que permite lançamentos com custos mais baixos, devido à proximidade com o Equador ー ficou para trás no desenvolvimento de tecnologias espaciais, e dá o exemplo da Argentina, que começou as atividades espaciais depois do Brasil, mas já se encontra num estado de produção mais avançado ー são capazes de produzir satélites geoestacionários, muito importantes na área de telecomunicação, por exemplo, enquanto o Brasil ainda os importa de empresas francesas.

Sobre essa colaboração estrangeira, como na compra de satélites geoestacionários franceses, Galvão explica que a situação de sigilo das informações é delicada, pois, ao mesmo tempo em que não é fácil que o Brasil tenha acesso às tecnologias de outros países, é complicado que acessem informações sobre comunicações brasileiras. Um exemplo da delicadeza dessa questão é o caso de empresas brasileiras que entraram, pelo sigilo de informações, com ações contra o satélite geoestacionário brasileiro, lançado pela empresa Telebras em convênio com o Ministério da Defesa do Brasil e a empresa estadunidense ViaSat, em que se divide o satélite entre o uso militar e de telecomunicações. Galvão conta que, apesar dos problemas já existentes, envolvendo o primeiro satélite, o Brasil já faz planos para o segundo.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

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