Questão cultural e redução do poder de compra influenciam no consumo de queijo no Brasil

O Brasil pleiteia a chancela de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, conferida pela Unesco, para os modos de Produção do Queijo Minas Artesanal

 06/02/2023 - Publicado há 1 ano
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Queijos artesanais crescem na preferência dos consumidores, mas demanda no Brasil ainda é baixa – Fotomontagem com imagens de Freepik e Texturelabs

 

Em qualquer balcão de frios de supermercados e padarias é fácil encontrar a venda de queijo prato e queijo muçarela a granel. É uma mostra da popularidade do produto na preferência do consumidor, mas ainda é pouco. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), o consumo médio per capita de queijos no Brasil é de cerca de 5,6 kg/ano. A Argentina, por outro lado, tem o maior consumo da  América Latina, com 12 kg per capita/ano. Campeã mundial nesse quesito, a Grécia consumiu, em 2014, nada menos do que 37,4 quilos de queijo per capita/ano, segundo a Organização Mundial para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Para estimular o crescimento do consumo no Brasil, no entanto, é preciso mais do que recompor o poder aquisitivo da população.

A engenheira agrônoma Fabiana Cunha Viana Leonelli, professora do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos de Pirassununga (FZEA) da USP, diz que o queijo é um dos alimentos que mais se incorporam ao hábito alimentar de um povo. “Há também questões culturais envolvidas no consumo do queijo não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. Essas diferenças entre níveis de consumo também se explicam por preferências regionais  e pelo significado que o queijo tem na formação gastronômica de um povo, ultrapassando a dimensão alimentar. Mas como alimento, o queijo é parte do patrimônio cultural em países como França e Itália”, explica. Vale ressaltar que Itália, França e Espanha respondem por metade dos cerca de dois mil tipos de queijo que existem no mundo.

Patrimônio Cultural

Fabiana Leonelli – Foto: Acervo Pessoal

O Brasil pleiteia a chancela de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, conferida pela Unesco, para os modos de Produção do Queijo Minas Artesanal. A expectativa dos produtores é que essa chancela seja concedida em 2024, o que vai ajudar a difundir o produto e, como consequência, acelerar o processo de assimilação cultural o que, aliás, já está acontecendo com as notícias nos últimos anos dos vários prêmios que os queijos artesanais brasileiros têm conquistado mundo afora.

Com relação aos queijos industriais, Fabiana diz que vários estudos mostram que, quando há melhora do poder aquisitivo da população, há um aumento significativo do consumo de leite e derivados, como o iogurte e o queijo, principalmente os mais populares, que são o prato e a muçarela. “É fato que queijos industrializados como o prato e a muçarela têm ampla aceitação nacional pela versatilidade de uso, mas há preferências regionalizadas como o minas frescal, o curado e o meia-cura, o queijo coalho, o tipo parmesão, as diferentes modalidades de requeijão, incluindo os de corte, além dos queijos de búfala, cabra e ovelha.”

Independentemente do tipo de queijo que frequente a mesa do consumidor, o importante é saber se ele é adequado para uma dieta saudável. Nutricionistas dizem que os tipos roquefort, prato, provolone, de ovelha e cabra, gruyère, gouda, cheddar, camembert, brie e gorgonzola, por exemplo, são os mais ricos em gordura e, portanto, não devem ser adotados para consumo diário. Para se ter uma ideia, 30 gramas desses tipos de queijo contêm entre 89 e 140 calorias. “Se a gente comparar o queijo muçarela e o prato com o queijo cottage, com a  ricota e o queijo fresco, a gente vai ter uma quantidade de gordura maior”, afirma a nutricionista Renata Dessordi, doutora em alimentos e nutrição pela Unesp e professora da Faculdade Estácio, em Ribeirão Preto. 

Consumo saudável

Renata Dessordi – Foto: Acervo Pessoal

Como dica para uma alimentação saudável, ela sugere administrar as porções de queijo no dia a dia. “A participação do lácteo na dieta alimentar é particular porque cada pessoa tem um objetivo, uma recomendação calórica diferente.” Há também as pessoas que fazem tratamentos específicos para doenças crônicas. “Se a gente pensar nos pacientes hipertensos, eles precisam ter mais cautela com os queijos mais duros, aqueles mais curados, porque eles vão ter uma quantidade de sódio maior. Os pacientes renais, por exemplo, além de se preocupar com o sódio nos queijos mais curados, precisam se preocupar também com as proteínas.” Para esse público, os queijos mais moles, como a ricota, o cottage e o queijo fresco são os mais recomendados. “De forma geral, duas porções diárias de leite e derivados podem acrescentar na rotina alimentar boas fontes proteicas e de cálcio, o que é muito bom para alimentação.”

Para que o queijo se incorpore definitivamente à rotina alimentar do brasileiro, é preciso uma série de fatores encadeados. “É necessário compreender preferências regionais, momentos e formas de consumo e oferecer uma gama variada de produtos aos consumidores, desde os produzidos industrialmente ou sob sistemas artesanais registrados. Estas são algumas estratégias que também podem alavancar o consumo de queijo no Brasil e abrir novas perspectivas para o segmento. Por fim, políticas públicas que venham no sentido de fortalecer tais iniciativas podem contribuir de forma significativa para ampliar a oferta e estimular a demanda no mercado de queijos do País,” conclui Fabiana.


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