Plataformas virtuais para diagnósticos devem servir como auxílio para profissionais

Segundo o professor Altacílio Aparecido Nunes, todo instrumento digital de auxílio à vigilância e saúde só é importante se houver quem interprete os sinais, como um médico, por exemplo

 15/07/2021 - Publicado há 3 anos
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O paciente identifica uma mancha, erupção ou lesão na pele e envia uma foto para a ferramenta, que buscará em seu banco de dados um diagnóstico que, segundo testes feitos pela empresa, têm 97% de precisão – Foto Wikimedia Commons

 

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Anualmente, o Google recebe cerca de 10 bilhões de perguntas sobre problemas com a pele. E esta alta demanda, aliada ao rápido avanço da tecnologia e da Inteligência Artificial, fez com que a empresa desenvolvesse uma plataforma para diagnosticar problemas dermatológicos. A ideia do Derm Assist é simples: o paciente identifica uma mancha, erupção ou lesão na pele e envia uma foto para a ferramenta, que buscará em seu banco de dados um diagnóstico que, segundo testes feitos pela empresa, têm 97% de precisão.

Durante a apresentação do projeto, a empresa garantiu que não pretende ocupar o lugar dos médicos, mas, sim, auxiliá-los. Além disso, é importante ressaltar que a ferramenta ainda não está disponível e sequer foi autorizada pela Food and Drug Administration (FDA), a agência federal de saúde dos Estados Unidos da América. A expectativa é que o serviço esteja disponível ainda este ano em países europeus.

Plataforma de auxílio à medicina

Para Cacilda da Silva Souza, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e especialista em Dermatologia, o desenvolvimento de uma plataforma para diagnosticar as doenças de pele “é um projeto audacioso, que representa o avanço da ciência e da tecnologia” e que pode ser útil para a área médica, desde que resulte em benefícios para a saúde dos indivíduos.

Cacilda da Silva Souza – Foto: Arquivo SCS-Polo Ribeirão Preto

A professora explica que o uso da Inteligência Artificial para diagnósticos de doenças se baseia no aprendizado de um computador exposto a um banco de imagens, para que seja feito um diagnóstico comparativo de uma nova imagem com alguma já aprendida. Dessa forma, “o desenvolvimento de plataformas pode ser aplicável às áreas em que o aprendizado é baseado na análise de padrões de imagens”, como na dermatologia, radiologia e patologia.

Pesquisador sobre a tecnologia no auxílio à medicina, o professor Altacílio Aparecido Nunes, também da FMRP, diz que, embora a plataforma represente, de fato, um avanço para a tecnologia, “nenhum algoritmo, de nenhuma origem, é capaz de substituir um médico no diagnóstico e no tratamento”.

Além disso, o professor ainda destaca que o rápido desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve substituir os profissionais. “Dispositivos de auxílio e diagnóstico existem há muito tempo, e não são capazes de fazer nada além de auxiliar um profissional.”

Riscos para os pacientes

Altacílio Aparecido Nunes – Foto: FMRP/USP

Se para o futuro dos profissionais a ferramenta não traz riscos, o mesmo não se pode dizer para os pacientes que confiarem única e exclusivamente no Derm Assist. É que, segundo o professor, todo instrumento digital de auxílio à vigilância e saúde só é importante se houver quem interprete os sinais, como um médico, por exemplo. “Se não for interpretada da maneira correta, há mais riscos do que vantagens”, afirma Nunes.

Entre os possíveis riscos que essa consulta virtual pode provocar, é possível citar erros nos diagnósticos, atrasos na busca por assistência médica e inadequação do tratamento, principalmente por automedicação, que, “além de atrasar a melhora da condição, pode piorar ou colocar em risco a vida dos indivíduos”, alerta a professora Cacilda.

Além disso, a professora ressalta que sempre será um risco à saúde de um indivíduo leigo assumir, de forma independente, a responsabilidade do diagnóstico e do tratamento. Nesses casos, o que auxilia muito nos diagnósticos “são as informações detalhadas sobre os sinais e sintomas da doença, o tempo de surgimento e os antecedentes pessoais e familiares”.


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