Pesquisadores norte-americanos revelaram que pequenos crustáceos podem fertilizar algas marinhas

José Rubens Pirani comenta estudo que, pela primeira vez, documentou como uma alga é fertilizada por um animal, a partir de uma relação de cooperação

 24/11/2022 - Publicado há 1 ano
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Foto: Arquivo pessoal do pesquisador

Há tempos acreditava-se que a polinização em ambientes aquáticos ocorria por meio da hidrofilia, processo em que a água é a principal responsável pelo transporte de gametas das plantas. A polinização é um processo de reprodução sexuada, que ocorre tanto em plantas terrestres quanto em plantas marinhas. Ela é essencial para a manutenção da biodiversidade da flora e ocorre nas formas de zoofilia, hidrofilia e anemofilia. 

Em estudo de caso elaborado por pesquisadores norte-americanos e publicado pela revista Science, com algas, foi demonstrado que pequenos crustáceos (Idotea balthica) são capazes de realizar o processo em algas vermelhas do gênero Gracilaria gracilis, caracterizando a polinização por zoofilia. A constatação foi feita a partir do uso de microscópios, que constataram maiores índices de fertilização nos aquários em que os crustáceos estavam presentes.

José Rubens Pirani – Foto: Arquivo pessoal

A descoberta indica que as algas podem ser um dos primeiros exemplares aquáticos que também utilizam animais para a reprodução e a descoberta de uma potencial “abelha do mar”. Esta foi a primeira vez que se documentou como uma alga é fertilizada por um animal, a partir de uma relação de cooperação.

O professor José Rubens Pirani, do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP, explica que no ambiente marinho é mais comum que as vegetações se desenvolvam por brotamento e espalhamento. Essas plantas possuem adaptações para que o pólen adentre o estigma da flor, por meio do transporte de água: “Então é realmente novidade imaginar que animais carregam esse pólen de uma planta a outra”, complementa ele. 

Questão evolutiva

Por tempos pensou-se que plantas angiospermas terrestres fossem as únicas que possuíam o auxílio de animais para o processo de polinização. Pirani expõe a descoberta como uma possibilidade de colocar em xeque questões evolutivas, ao sugerir que a fertilização por animais poderia ter evoluído de formas independentes em ambientes marinhos e terrestres. 

Ele explica: “O que se imaginava era que as plantas angiospermas eram basicamente plantas terrestres. Algumas, que vivem no mar, conseguiram colonizá-lo a partir de adaptações. Então, é quase que uma reversão do que aconteceu na história da evolução”. 

Ainda que, ocasionalmente, alguns animais entrem em contato com os gametas de diversas plantas aquáticas e auxiliem indiretamente a polinização, no caso envolvendo as algas vermelhas e o crustáceo, há um envolvimento de cooperação, em que os dois seres são beneficiados por essa relação.


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