Pacote de medidas econômicas é importante, mas ainda é pouco, afirma Feldmann

Para o professor, um dos focos do novo governo precisa ser atrair investimentos estrangeiros: “Isso é fundamental para o Brasil voltar a crescer”

 18/01/2023 - Publicado há 1 ano
O refinanciamento de dívidas é muito importante dentro das medidas do Ministério da Fazenda – Foto: Freepik
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Os atos golpistas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro tiveram repercussão não somente no mundo político, como também no econômico. A resposta rápida do atual governo mostrou a coesão do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Planalto em torno de um objetivo: a defesa da democracia.

Com essa reação, a economia também foi beneficiada. “As questões políticas vêm antes das econômicas. Questões políticas geram expectativa e, se a expectativa é positiva, os agentes econômicos começam a se movimentar favoravelmente, em busca dessa economia que se espera que vá ficar bem“, pontua o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP.

Medidas econômicas

O ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad, apresentou um pacote de medidas que pretende cortar R$ 50 bilhões em gastos e arrecadar cerca de R$ 240 bilhões. O professor, que foi integrante do grupo técnico da área de indústria, comércio, serviços e pequenas empresas da equipe de transição do novo governo, analisa que o corte de gastos previstos é muito pequeno quando comparado com os excessos deixados pelo governo Bolsonaro: “É muito pouco, mas, se ela acontecesse, seria importante. É pouco porque a gente sabe que tem muito mais para se reduzir em termos de gastos, principalmente do governo federal: R$ 50 bilhões é algo em torno de 3% dos gastos totais do governo federal e quem participou da equipe de transição percebeu que o excesso de gastos enorme no governo anterior pode ser facilmente eliminado. Nós trabalhamos durante três semanas apenas e identificamos gastos muito grandes”. Feldmann acrescenta que é muito provável que, nas próximas semanas, haja mais pacotes de redução de gastos.

Paulo Feldmann – Foto: FEA-USP

O refinanciamento de dívidas é muito importante dentro das medidas do Ministério da Fazenda, porém, segundo Feldmann, elas precisam de mais apoio: “É uma boa iniciativa para iniciar um conjunto de outras medidas. É a redução dos impostos das dívidas que, principalmente, as pequenas empresas e as pessoas físicas têm com o governo federal. Ela é importante e poderá trazer uma arrecadação da ordem dos R$ 200 bilhões, conforme Haddad, e R$ 100 bilhões, segundo o mercado. De qualquer jeito, é um valor expressivo é algo muito positivo, porque traz um valor ao caixa do governo e as empresas deixam de ter essa ‘espada’ em cima da cabeça delas. Podemos esperar um crescimento da economia importante só por conta dessa medida, mas, é claro, que têm muitas outras que precisam acontecer”.

Necessidade

Um rombo de mais de R$ 220 bilhões está previsto para este ano e, com as medidas tomadas pelo Ministério da Fazenda, a arrecadação deve ser capaz de superar esse déficit. Um dos focos do novo governo precisa ser atrair investimentos estrangeiros: “Isso é fundamental para o Brasil voltar a crescer. Nós sempre estivemos entre os quatro países que mais receberam investimentos estrangeiros, mas, neste último governo, isso caiu muito. Houve uma recuperação pequena em 2021 e não sabemos ainda o estado de 2022”, diz Feldmann. 

Mas o professor explica que, além de realizar manobras para auxiliar a economia, é necessário analisar as informações deixadas pelo governo anterior: “Sobre toda a questão tributária: quanto que os Estados, os municípios, o governo federal precisam e de onde virá esse valor? Não adianta falar em reforma tributária enquanto não tivermos um arcabouço fiscal muito bem definido. Então, as medidas tomadas agora são, mais ou menos, paliativas, são aquelas coisas óbvias feitas para se promover um mínimo de saúde financeira para o governo federal. O governo anterior não abriu efetivamente os dados para o novo governo, nem a própria equipe de transição teve acesso completo aos dados. Só agora é que se está tomando conhecimento do tamanho do problema e será possível definir as medidas importantes, principalmente fiscais.”


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