Os desafios que a ciência brasileira impõe para o próximo governo

Glauco Arbix fala sobre cortes nos orçamentos governamentais dedicados à pesquisa no setor de Ciência, Tecnologia e Informação

 30/03/2022 - Publicado há 2 anos
O atual governo brasileiro desenvolve uma má política em relação à ciência, educação e às universidades – Foto: Pedro França/Agência Senado
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Durante a pandemia de covid-19, o trabalho dos pesquisadores e cientistas brasileiros se destacou pela relevância nos estudos ao combate à doença. Mas a área científica continua enfrentando desafios devido à falta de investimentos do governo no setor.  

Glauco Arbix – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Glauco Arbix, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e coordenador do Observatório de Inovação e Competitividade (OIC) do Instituto de Estudos Avançados (IEA), discute o tema que será debatido em um ciclo de seminários em parceria com Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

Arbix enfatiza que a ciência brasileira é muito atuante no combate à pandemia e dá exemplo da professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP, Ester Sabino, que sequenciou o genoma do coronavírus e contribuiu para o desenvolvimento de vacinas. O professor, no entanto, enxerga que o atual governo brasileiro desenvolve uma má política em relação à ciência, educação e às universidades: “Os países caminham para uma nova economia, para uma nova sociedade digitalizada, com todos os seus impactos na área de Inteligência Artificial e de robótica. São avanços muito fortes e o Brasil está fora disso, não consegue acompanhar essa evolução”. “Nós somos muito atrasados. Esse é o grande legado desastroso que o governo federal está deixando”, complementa. 

Inovação

Em 2020, o decreto Nº 10.534 da Política Nacional de Inovação instituiu, no âmbito da administração pública federal, a finalidade de orientar e coordenar estratégias e programas de fomento à inovação no setor produtivo. O coordenador do OIC discorre sobre a falta de objetivos e metas concretas e com orçamentos nesses documentos: “Nós não podemos imaginar que o sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação funciona com base em documentos, em papéis. A gente não consegue entender nesses documentos quais são exatamente os potenciais que o Brasil tem. Esse mapeamento do nosso potencial é a única maneira que nos permite vincular a nossa atividade como o nosso objetivo”. 

Nós não podemos imaginar que o sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação funciona com base em documentos, em papéis – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

Glauco Arbix percebe que os cortes nos fluxos de financiamento providos pelo governo nos programas de inovação do País afetam negativamente a perspectiva dos jovens da nova geração na ciência brasileira. Além disso, o professor chama a atenção para a presença do setor público nos países em que a ciência é desenvolvida. “Nos países que avançaram e que continuam fazendo avançar na ciência, nós não encontramos uma situação em que o governo ‘saiu de fora’. Mesmo as universidades americanas [como] Stanford, Harvard e Columbia são universidades em direitos privados, mas vivem em grande parte financiadas por verbas públicas. Por que? Porque a ciência precisa de atividades de alto risco e tem um retorno muito grande para a sociedade”, argumenta. 

Arbix iniciará o ciclo de debates Reconstruindo as Políticas Brasileiras: Por onde começar? nesta sexta-feira (1º), às 10h, e espera que o Brasil consiga avançar em propostas efetivas neste ano de eleições. Para acompanhar a transmissão do evento basta acessar o site do IEA: iea.usp.br/ao vivo


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