Obesidade não deve ser tratada como problema individual

Condição já é tida como epidemia na América Latina e Caribe e exige estratégias governamentais remediadoras

 15/07/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 29/10/2019 as 9:50
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Se perguntarem quais palavras você lembra automaticamente ao ouvir “epidemia”, é provável que diga algo relacionado a doenças infecciosas como “dengue”, por exemplo. No entanto, um alerta emitido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que a América Latina e o Caribe estão sofrendo com uma epidemia que não é transmitida por mosquitos, a obesidade.

Há cerca de quatro décadas a obesidade afetava 8,6% dos cidadãos da região, agora já é estimado que uma em cada quatro pessoas sofram do problema. No Brasil, a obesidade é estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 22,1% da população.

Ao analisar a condição da obesidade na América Latina e no Caribe, obrigatoriamente deve-se analisar também as condições socioeconômicas dos indivíduos. “As pessoas que estão sendo afetadas pela obesidade são aquelas com piores condições socioeconômicas, pois acabam comendo mais alimentos industrializados e ultraprocessados”, afirmou ao Jornal da USP no Ar o doutor Bruno Halpern, especialista em Clínica Médica, Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Segundo ele, esses alimentos classificados como “ultraprocessados” possuem poucos nutrientes bons, uma grande quantidade de calorias, porém são pouco densos e então não matam a fome. Além disso, mesmo esses alimentos apresentando geralmente uma quantidade maior de proteínas de origem animal, a quantidade total de proteínas é menor, se comparada aos alimentos in natura.

Foto: Visual Hunt

Halpern, que também é diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), aponta que América Latina e o Caribe tradicionalmente possuem uma alimentação baseada em cereais, raízes e leguminosas; porém o avanço da urbanização trouxe mudanças. A necessidade por opções fáceis, baratas e que não estragam, para se alinhar ao aumento do custo de vida fora do campo compensa o consumo dos ultraprocessados. “Há também uma tendência muito grande de um estilo de vida estadunidense. Muita fritura, muito doce e assim por diante, por isso o crescimento da obesidade nessas regiões foi até maior do que em outras partes do mundo”, complementa.

É importante termos um olhar para a obesidade como um problema coletivo da sociedade, e não individual. O especialista reforça o equívoco do saber comum de tratar a obesidade como uma condição de pessoas preguiçosas, que não se esforçam, e que, se quisessem, emagreceriam. Como se o problema crescente nas últimas décadas fosse a irresponsabilidade das pessoas com sua alimentação. “Obviamente isso é um equívoco, precisamos entender a complexidade das causas da obesidade. Se fosse assim, cada um faria sua parte e o problema se resolveria. Temos uma epidemia com múltiplas causas, não é uma questão individual.” Ele reforça que uma saída imprescindível para tentar conter a epidemia de obesidade envolve o Estado, através de estratégias governamentais de saúde pública.

Ao exemplificar, Bruno Halpern comenta a iniciativa endossada pela Abeso e outras associações do mundo inteiro de simplificar as informações nos rótulos dos alimentos. Além disso, de colocar grandes sinais de advertência nos produtos que possuírem quantidades significativas de sais, açúcares, ou calorias em geral. A atual rotulação pode confundir muito as pessoas, porém ele comenta que isso não é uma tentativa de vilanizar os alimentos industrializados. Em termos de sustentabilidade eles ainda serão muito necessários, porém deve existir uma preocupação pública em melhorar as rotulagens.


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