O que revelam os casos de “fura fila” do plano de vacinação

Para Renato Janine, os casos estão relacionados a uma certa “degradação do ambiente público no Brasil”

 22/03/2021 - Publicado há 3 anos
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Cumprir o cronograma de vacinação é essencial para combater a pandemia de Covid-19 -Fotomontagem: Moisés Dorado / Jornal da USP

 

Neste mês de março, completou-se um ano de pandemia do coronavírus. Todos agora aguardam ansiosamente pela vacina e a pergunta que não cala é: quando será a minha vez? Em meio a toda essa espera, algumas pessoas decidiram burlar a ordem determinada pelo plano de vacinação. Há muitos casos de “fura fila” da vacina sendo investigados, ou seja, pessoas fora do grupo prioritário sendo vacinadas.

Para Renato Janine, professor de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, os casos estão relacionados a uma certa “degradação do ambiente público no Brasil”.  É muito comum, no cotidiano, a ocorrência de desrespeito às filas. “Pessoas com frequência furam, geralmente, com o pretexto de que é uma bagunça mesmo. Então, elas não assumem a responsabilidade de que estão furando. É uma convicção de que a organização social não funciona”, explica o professor.

O argumento que sustenta esse tipo de atitude, em termos práticos, acaba somente por piorar essa dura realidade. A organização como vem sendo feita foi pensada para evitar o número de hospitalizações de idosos e reduzir o risco de morte desse grupo. Se essa dinâmica apresenta problemas, ao desrespeitar a ordem determinada pelo plano de vacinação, você contribui com o caos.

“Nesta situação atual, em que há falta de vacinas e vivemos sob um governo negacionista, que não está preocupado com a saúde e com a sobrevivência dos cidadãos, a essa altura isso se agrava. Como a gente não sabe se haverá vacina ou não, há pessoas tentando de toda maneira furar a fila da vacinação. Não está identificada a ideia de que a regra é para o bem de todos”, acrescenta Janine.

Quando a questão de classe volta à tona 

O professor aponta ainda que muitas dessas pessoas que vêm furando a fila têm um alto poder aquisitivo, conhecem as regras e não teriam coragem de apresentar essa postura no exterior. Por terem mais dinheiro, por serem mais famosas, acreditam que podem passar na frente das demais e contribuem com o aumento da desigualdade. Será que estamos todos no mesmo barco mesmo? 

 


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