Normalidade pós-quarentena pode ser realidade ainda distante

“O futuro não pode ser encarado como um problema de consciência individual”, diz o professor César Ricardo Simoni

 15/05/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 31/05/2020 as 16:18

 

Em plena quarentena, todos a enfrentam de formas diferentes. Muitos buscam se proteger da covid-19 ficando em casa, mas há quem precise trabalhar ou não esteja preocupado. Nessa nova realidade urbana é difícil falar das pessoas de uma forma geral, falar de um coletivo sem considerar que há grupos sociais distintos, dependendo da condição, de classe e local de moradia. O que está ficando mais evidente com a doença e a aplicação de medidas sanitárias é a desigualdade social no espaço urbano das grandes metrópoles. A própria quarentena se tornou um elemento de distinção social. Há quem siga as orientações das organizações de saúde e há quem esteja nas ruas, trabalhando ou se reunindo com outras pessoas como se não houvesse riscos.

O professor César Ricardo Simoni Santos, do Laboratório de Geografia Urbana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, pensa que “o futuro não pode ser encarado como um problema de consciência individual de cada um. Muitos vão ter de lidar com os mortos na família, na comunidade. Há um aspecto emocional muito forte, as pessoas vão ter de lidar com a perda do emprego e com o consequente endividamento desse período. Vão ter de lidar com todo trauma pessoal e social dessa doença”.

O que cada um irá fazer após este período? O professor César Simoni acredita que “o que cada um vai fazer, passado este período de maior intensidade do contágio, será definido por um universo de urgências, na verdade, de necessidades pessoais e sociais. Urgências que amarram esse trabalhador empobrecido a um mercado de trabalho irracional e que frequentemente ganham mais importância ou estatuto similar que a própria vida”. Segundo o professor, “para muitas pessoas, o trabalho representa a possibilidade de sobrevivência. Elas trabalham de dia para comer à noite. Assim, não vai ser a consciência que vai orientar as práticas sociais, mas a necessidade das pessoas”.

 


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