No Brasil, risco de tsunâmis é baixo, mas revela necessidade de estudos geológicos

Luigi Jovane critica o sensacionalismo de que ondas gigantes atingiriam a costa brasileira, pois as especulações existentes carecem de estudos mais abrangentes

 05/10/2021 - Publicado há 2 anos
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As especulações acerca da chegada de tsunâmis ao Brasil revelam um cenário próspero, mas ainda muito carente de estudos sobre as atividades sísmicas locais – Arte de Lívia Magalhães com imagens de Freepik e Pixabay

 

A erupção do vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha La Palma, no arquipélago das Canárias, na Espanha, no dia 19 de setembro, despertou a atenção de governantes espanhóis por conta da destruição que sua explosão causaria. Outra especulação foi a possibilidade de um tsunâmi atingir a costa brasileira a partir das atividades sísmicas e vulcânicas no arquipélago espanhol. Luigi Jovane, professor do Instituto de Oceanografia da USP e especialista em Geofísica Marinha, explicou alguns pontos que afastam a possibilidade de uma onda gigante nos litorais brasileiros ao Jornal da USP no Ar 1° Edição.

Um tsunâmi pode ser definido, de acordo com Jovane, como uma onda anômala causada por terremotos, explosões vulcânicas e movimento de terra no mar. “Assim, cria-se uma variação de pressão que gera uma onda de baixa frequência que se propaga e caracteriza um tsunâmi”, explica. Entre os tipos de tsunâmi, é possível diferenciar dois tipos de ondas: o tsunâmi e o teletsunâmi. Entre as principais diferenças, a distância do local de interesse de onde ocorreu o evento geológico e a propagação da onda de baixa frequência são as mais relevantes. “Tsunâmis de 60 metros são locais, porque as ondas se quebram próximas ao local do deslizamento de terra, erupção vulcânica ou do terremoto. Mas também existe o teletsunâmi, que é gerado por fontes muito distantes do local de interesse, como é o caso das Canárias até o Brasil”, diferencia Jovane.

Um teletsunâmi é caracterizado quando o local de interesse está localizado a mais de 1.000 km da área onde ocorre o evento geológico. Os principais registros desse tipo de onda aconteceram devido a terremotos com altas magnitudes, como foram os casos de Lisboa em 1755, do Alasca em 1964 e do Oceano Índico em 2004. 

De acordo com o Instituto Geográfico Nacional (IGN) da Espanha foram registrados 4.530 terremotos na região onde está o vulcão Cumbre Vieja. Jovane explica que, se a erupção do vulcão nas ilhas Canárias e os terremotos associados gerassem algum risco de onda anômala para o Brasil, o que chegaria aqui seria um teletsunâmi. “Até chegar à costa brasileira ele perde potência”, avalia. Se chegasse ao Brasil, essa onda afetaria principalmente alguns Estados do litoral setentrional, formado por Ceará, Rio Grande do Norte e nordeste do Maranhão. “Não seria uma onda de 10 ou 40 metros, mas teria poder destrutivo principalmente em Natal”, analisa. 

Mesmo que com pouca potência os sistemas de alerta de tsunâmi notificariam o Brasil sobre a possibilidade do evento. “Até a onda chegar aqui a gente seria alertado com até quatro horas de antecedência”, comenta Jovane. O professor critica o sensacionalismo de algumas mídias ao anunciar que ondas gigantes atingiriam a costa brasileira quando, na verdade, a possibilidade seria de um teletsunâmi.

Por outro lado, as especulações acerca da chegada de tsunâmis ao Brasil revelam um cenário próspero, mas ainda muito carente de estudos sobre as atividades sísmicas locais. “A bacia de São Paulo, por exemplo, é uma área extremamente ativa”, complementa. Jovane é enfático ao destacar que atividades sísmicas são fenômenos que podem acontecer quando menos esperamos e que o investimento em construções antissísmicas deveria ser uma realidade não só em São Paulo, como no Brasil. “Os riscos de tsunâmis também existem e são baixos, mas precisam ser estudados”, reforça. 

Por fim, outro ponto de atenção é o despejo de partículas na atmosfera por meio das erupções vulcânicas que, segundo Jovane, podem contribuir para o resfriamento da Terra durante um período de até três anos, sobretudo as erupções em áreas equatoriais. “Essas partículas são ricas em minerais pesados que se difundem na atmosfera, ou seja, diminuem a entrada dos raios solares na Terra”, finaliza.


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