“Não são os pobres o problema do Brasil”

A afirmação é do professor Paulo Feldmann ao repercutir as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, em Davos

 22/01/2020 - Publicado há 4 anos
Foto: World Economic Forum/Flickr-CC

No primeiro dia do Fórum Mundial Econômico de Davos o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu declarações polêmicas que causaram repercussão internacional imediata. Para o ministro, o pior inimigo da natureza não são os políticos, ou as indústrias poluentes ou o modelo de desenvolvimento econômico, e sim os pobres, que precisam destruir a natureza para poder comer. E aproveitou para dar um recado sobre o uso dos agrotóxicos. “Todos nós queremos um espaço mais verde e queremos mais comida. E, dependendo de quais agentes químicos você usa para ter mais comida, você não tem um espaço limpo. E isso é uma solução política muito complexa”, observa Guedes.

Indignado com as afirmações do ministro, Paulo Roberto Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, analisou as declarações de Guedes em entrevista ao Jornal da USP no Ar, apontando algumas soluções. “É um dos maiores absurdos falados. Não são os pobres o problema do Brasil. É justamente o contrário”, afirma Feldmann. “A mudança climática piora em muito a situação dos pobres, que sofrem com os eventos extremos provocados pelo aquecimento global causado pelas grandes indústrias que produzem CO2 em excesso, o agronegócio que destrói a vegetação para criar terras para a produção de alimentos e a falta de política pública que defenda o meio ambiente e combata o desmatamento.”

Feldmann diz ainda que declarações como as do ministro Paulo Guedes só atrapalham os negócios no Brasil. “Os executivos em Davos veem com maus olhos a produção agrícola brasileira. Os executivos reconhecem o sucesso da economia, mas é unanimidade o ‘descaso’ ambiental”, ressalta o professor.

Embora indignado, Feldmann acredita que o Brasil tem um potencial enorme para ser um dos países mais importantes do mundo. “Isso se soubermos tratar a biodiversidade da Amazônia com inteligência, uma vez que a biotecnologia é a ciência que mais cresce e precisa da biodiversidade para manipular os micro-organismos, as plantas e os animais, para a obtenção de processos e produtos de interesse para a sociedade. O professor ressalta que precisamos de uma política para formar recursos humanos que saibam usar a biodiversidade em prol da biotecnologia, sendo que a Amazônia tem um quarto da biodiversidade do mundo.

Acompanhe a entrevista na íntegra pelo link acima.


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