Música pode contribuir para a qualidade de vida de pacientes com Alzheimer

Vitor Tumas diz que o Alzheimer, num primeiro momento, afeta apenas as memórias mais recentes e que lembranças do passado podem ser estimuladas por fatores externos como a música

 11/12/2020 - Publicado há 3 anos
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Nas últimas semanas, viralizou na internet um vídeo emocionante. Na gravação, Marta González, que na década de 60 foi uma bailarina, mesmo sofrendo com o Alzheimer hoje em dia, foi capaz de lembrar dos movimentos da dança Lago dos Cisnes. Ao escutar a melodia, a senhora instantaneamente executa os movimentos que costumava apresentar nos palcos de balé. 

Após a divulgação do vídeo, diversos internautas passaram a debater as consequências da doença neurodegenerativa. O professor Vitor Tumas, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, comenta que o Alzheimer afeta, em um primeiro momento, as memórias mais recentes dos pacientes, o que poderia explicar o fenômeno.

“As memórias antigas em parte ficam intactas por um tempo, depois são afetadas. Mas existem partes da memória, aquelas muito consolidadas, que, mesmo com a doença avançada, ainda são preservadas. E o caso é de que deve ter sido algo muito importante para ela [Marta] e algo repetido várias vezes, que pode ter se consolidado na memória e, por isso, um efeito externo [a música] pode trazer à baila essa memória.”

Atualmente ainda não há um tratamento propriamente dito para o Alzheimer, apesar dos diversos estudos em desenvolvimento. Mas, segundo o professor, “um ponto importante da terapia é a qualidade de vida do paciente”. Portanto, escutar música pode, sim, ser interessante para a rotina de um indivíduo que sofre com a comorbidade.

“O fato de o paciente participar de atividades em que ele se sinta bem, isso, sem dúvidas, tem um efeito positivo”, pontua o professor.

Se o Alzheimer ainda não tem cura, ao menos existem fatores que, se controlados durante toda a vida, diminuem a chance de desenvolvimento da doença — que normalmente se manifesta em pessoas de mais idade. Além da constância da atividade física e do cuidado com problemas em saúde em geral, um terceiro aspecto comentado por Vitor Tumas é a reserva cognitiva:

“Outro fator ligado ao risco de desenvolver a doença é o que chamamos de reserva cognitiva, que pode ser simplificada em escolaridade. Sabemos que, quanto maior a escolaridade, menor a possibilidade de desenvolver algum tipo de demência ou o prazo para desenvolver demência se alonga.”

Assista ao vídeo da bailarina Marta González que viralizou na internet.


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