Mudança na política econômica reflete objetivos político-eleitorais

A opinião é de André Singer, que analisa divisão do governo a respeito da política econômica e sua relação com a má gestão da pandemia pelo Executivo

 13/08/2020 - Publicado há 4 anos

Logo da Rádio USP

Na coluna Poder e Contrapoder desta semana, o cientista político e professor André Singer analisa a divisão no interior do governo a respeito da política econômica. Ele explica que setores da Esplanada, aparentemente com a simpatia do próprio presidente, propõem uma mudança estrutural da orientação ultraliberal que vigorou até o momento para uma orientação de investimento, “tanto no que diz respeito à transferência de renda para a população quanto no que diz respeito a obras”. Essa mudança, caso venha a acontecer, representaria uma reviravolta no próprio caráter do governo, segundo Singer. 

O colunista esclarece que há objetivos político-eleitorais claros nessa mudança, muito ligados às consequências inesperadas da pandemia. “Vamos lembrar que o presidente começou por negar a importância do coronavírus, que já fez mais de 100 mil mortes no Brasil, e se opôs às diretrizes de distanciamento social. Com isso, ele perdeu base na classe média”, aponta. 

Além disso, o Congresso ampliou o auxílio emergencial, o que explicaria porque o presidente começou a receber apoio de eleitores de menor renda. “É essa a alteração que explica porque hoje uma parte do governo quer mudar a política econômica.” 

Ele afirma que não há ainda como prever quem vai ganhar essa “queda de braço”, mas sabe que essa mudança se combina com outras que vêm ocorrendo. É o caso da aliança do atual governo com o centrão, apesar de o presidente ter sido eleito sob a bandeira de combate à “velha política”. 

O colunista observa um apoio de ministros, como o da Infraestrutura e o do Desenvolvimento Regional, além dos ministros militares, para uma alteração importante da orientação do governo. Há, por outro lado, uma pressão do ministro da Economia, segundo o qual, caso houvesse uma ruptura do teto de gastos, o presidente entraria na zona do impeachment. Bolsonaro se viu, então, obrigado a fazer um pronunciamento ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara, dizendo respeitar o teto de gastos. “Só a observação dos próximos acontecimentos é que poderá nos dizer quem de fato vai ganhar essa luta”, finaliza André Singer. 

Ouça a íntegra da coluna no player. 


Poder e Contrapoder
A coluna Poder e Contrapoder, com o professor André Singer,  no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.