Medicações modernas para esquizofrenia têm menos efeitos colaterais

Tratamento prolongado depende de adesão do paciente, que também sofre com estigma social, diz psiquiatra

 24/05/2019 - Publicado há 5 anos
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jorusp

Hoje, 24 de maio, é o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia. A data destaca o desafio de tratar a doença, buscando entender e discutir a redução das barreiras do estigma e criar oportunidades de superação.“Esperança Realista e Possibilidades na Vida com Esquizofrenia”, o lema da campanha deste ano, convida à reflexão. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 23 milhões de pessoas no mundo sofrem com a doença. A desinformação sobre o transtorno gera uma série de equívocos em relação ao comportamento dos pacientes. Muitos acham que eles são perigosos, violentos e inaptos para o convívio.

O psiquiatra Helio Elkis, coordenador do programa de Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, conta ao Jornal da USP no Ar que a doença tem tratamento eficaz. “A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico como qualquer outro. Afeta áreas como pensamento, percepção, expressão dos afetos ou capacidade de raciocínio da pessoa”, explica. Sua causa é a falta de dopamina, neurotransmissor sintetizado nas glândulas suprarrenais. “Tudo isso é tratável com remédio, os antipsicóticos. Quanto mais cedo a intervenção, melhor. Há, ainda, terapêuticas paralelas como a psicoterapia, terapia ocupacional e o treino de habilidade social. A orientação familiar também é fundamental”, explica.

Estigmas partem tanto da sociedade como do paciente. “É natural que algumas pessoas tentem superar a condição, sem o uso do remédio. Existem aqueles que temem os efeitos colaterais da medicação, outros que simplesmente não gostam de se medicar, no entanto, os antipsicóticos são o melhor tratamento, de acordo com testes clínicos”, afirma Elkis. E, atualmente, os fármacos aplicados à esquizofrenia já não causam muitos efeitos paralelos. “Um receio comum é relacionado à perda de libido. Porém, os antipsicóticos de segunda geração quase não têm essa consequência. Os antidepressivos, encarados com muito mais normalidade, podem causar os mesmos sintomas”, argumenta o psiquiatra.

Logo que diagnosticado, é receitado um único antipsicótico à pessoa com esquizofrenia. O médico responsável acompanha o paciente de quatro a seis semanas. Caso o tratamento não seja efetivo, substitui-se a medicação e mantém-se a supervisão por mais cerca de um mês. Se os sintomas permanecerem, é indicado um remédio chamado clozapina. “Ela é uma substância que existe desde os anos 70 e tem uma eficácia muito grande. É aplicada ao que chamamos de padrão resistente de esquizofrenia. E também não tem efeitos sobre a libido da pessoa”, declara Elkis. Nos poucos casos em que a clozapina não é efetiva, são aplicadas outras terapêuticas não medicamentosas. Uma pesquisa recente testa os efeitos da estimulação elétrica do cérebro, a eletroconvulsoterapia.

O foco principal da campanha deste dia 24 é a redução do preconceito quanto ao transtorno. “Como diz a Associação Brasileira de Psiquiatria, psicofobia é crime. E é uma doença psiquiátrica como qualquer outra e com tratamento. Todos precisam saber disso”, alega o médico.

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