Mas, afinal, que gênero é esse a que chamam de MPB?

Quem responde a esta pergunta são os professores Luiz Tatit e Alberto Ikeda, que falam no “Diálogos na USP” sobre a música popular brasileira hoje

 30/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 05/09/2019 as 16:39
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O conceito de Música Popular Brasileira, ou MPB, nasceu no começo dos anos 60, ancorado em preceitos culturais, artísticos e até mesmo políticos. No entanto, esse mesmo conceito ― que chegou a rejeitar a guitarra elétrica na música brasileira, por ser um estrangeirismo ― sofreu muitas modificações ao longo das décadas. Hoje, a ideia do que é música popular brasileira parece ser muito mais ampla.

Rica em sonoridade, criatividade e elementos rítmicos, a música brasileira talvez seja uma das mais conhecidas no exterior. Estilos consagrados como a bossa nova e o samba estão hoje emparelhados com outros que chamam a atenção de um público diversificado, como o axé e o sertanejo, por exemplo.

Por outro lado, ritmos que alguns caracterizam como “música de periferia”, como o rap e o hip-hop, também vão ganhando cada vez mais espaço, talvez até mesmo diluindo o que se conhecia como música popular brasileira, caminhando para um conceito que poderia se chamar música brasileira popular.

Para falar sobre os caminhos da música brasileira, o Diálogos na USP, apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu Luiz Tatit, professor titular do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que é também escritor, pesquisador e compositor, tendo lançado diversos CDs em sua participação no grupo Rumo e em sua carreira solo. O programa também conta com Alberto Ikeda, estudioso da música, professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam).
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Marcello Rollemberg, apresentador do Diálogos, Alberto Ikeda e Luiz Tatit – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Luiz Tatit diz não gostar do termo MPB, pois associa a música a uma fase de protestos dos anos 60, quando, na verdade, tudo que se tem no País é música popular brasileira. Além disso, acredita que o termo remete a algo conservador, sendo voltado principalmente para pessoas mais velhas. O compositor prefere utilizar o termo canção, que remete a tudo que envolve canto, melodia e letra.

Alberto Ikeda comenta que a sigla MPB surgiu como forma de distinguir o ritmo da música considerada comercial para a época, como o rock’n roll. Na atualidade, o termo está desgastado e há dificuldade em defini-lo de forma conceitual ― sabe-se apenas que, hoje, praticamente tudo que se faz é música popular brasileira.

“A partir do Tropicalismo, a história de gêneros praticamente desapareceu”, diz Tatit, explicando que promover a mistura nas músicas é como um trunfo. O artista não se define como sambista, por exemplo, mas diz apenas que “está na música”, como explica o professor. Rotular-se impede que a produção seja feita em novos formatos.

Alberto Ikeda acredita que o próprio conceito de arte já justifica essa maior abertura para os diferentes gêneros. No entanto, o professor diz que “até a década de 90, ainda havia a necessidade da indústria de estabelecer classificações no sentido de propor algum direcionamento de vendagem”. Na contemporaneidade, Ikeda assume ser difícil definir tais limites, mas reforça a lembrança de que algumas rádios ainda instauram gêneros, sobretudo o rock.


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