O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com Mário Luiz Gomes Soares, professor e coordenador do Núcleo de Estudos em Manguezais (Nema), da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sobre o Projeto Costa Norte. Especialista em Oceanografia, o professor Soares dá detalhes da pesquisa que desenvolveu metodologia capaz de entender o processo costeiro e a vulnerabilidade de manguezais do Norte brasileiro.
Ao explicar a importância do Projeto Costa Norte, o professor lembra que o Brasil abriga a segunda maior área de manguezal do mundo, perdendo apenas para a Indonésia. Cerca de 80% destas áreas estão na costa norte do País, em um cinturão que vai do Maranhão ao Amazonas. “É a maior área contínua de manguezais do planeta e também a mais produtiva do País”, conta Soares, acrescentando que o manguezal da costa norte é responsável pela manutenção da diversidade biológica local, ao mesmo tempo funcionando como barreira contra as tempestades no oceano e como filtro natural para poluentes, por exemplo, os metais e o petróleo.
No entanto, alerta o oceanógrafo, o local também concentra “a maior quantidade de reservas extrativistas do Brasil”. E foi pela soma da importância ambiental dos manguezais com a preocupação de potenciais riscos oferecidos pela exploração petrolífera instalada na região (contaminação da floresta por vazamento de óleo) que foi criado o Projeto Costa Norte. O objetivo, segundo o professor, era mapear a vulnerabilidade, a sensibilidade e a suscetibilidade à contaminação dos manguezais localizados na costa dos Estados do Maranhão, Pará e Amapá.
Como resultado do esforço do grupo de cientistas, foi desenvolvido um mapa capaz de predizer a trajetória das manchas de óleo, identificando as regiões mais vulneráveis à contaminação e que levariam menos tempo para se recuperarem. A ferramenta, conta Soares, foi criada através de simulação virtual feita a partir de imagens aéreas, resultando em mapas identificadores das condições das florestas de mangues de toda a região costeira do Norte do Brasil.
“Sobrevoamos quatro áreas que escolhemos como piloto, escaneamos a floresta para detectar as características da vegetação e do substrato e estudamos a energia das marés dentro de cada manguezal”, diz o professor. E, com essas informações, os pesquisadores conseguiram verificar as possíveis reações dos ecossistemas em diferentes escalas e condições, em simulações que apresentam as características de cada região de manguezais. Assim, acredita Soares, identificando as áreas com maiores riscos, poderão “priorizar os esforços para o combate” de danos ambientais.