Línguas e as diferentes formas de comunicação revelam traços únicos de cada comunidade

Paulo Chagas de Souza explica como surgem as línguas e sua forte relação com as vivências de um povo

 25/07/2022 - Publicado há 2 anos
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Arte: Jornal da USP
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Nas Ilhas Canárias, o silbo gomero, uma língua assobiada e criada por aborígenes, chama a atenção de quem não é familiarizado com essa forma de se comunicar. A língua era muito utilizada em uma época em que a ilha não tinha nem estradas. Assim, os moradores assobiavam para conversar com os vizinhos entre os penhascos.

Como surgem as línguas?

Paulo Chagas de Souza – Foto: FFLCH

Segundo Paulo Chagas de Souza, professor do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a construção de uma língua está associada ao contexto geográfico de uma população. Para que ela surja, é necessário haver um isolamento entre integrantes de uma mesma comunidade: “Se esse isolamento for mais prolongado, como toda língua muda, esses dois grupos que tinham contato e deixam de ter contato vão acabar mudando de forma diferente […], a língua deles acaba se desenvolvendo de uma forma diferente”.

Com o isolamento geográfico, as línguas se compõem com suas próprias particularidades. “Cada língua carrega o conhecimento de mundo do povo que fala essa língua. Por exemplo, conhecimento geográfico na área em que ele mora, conhecimento da fauna, da flora etc.”, explica de Souza.

Língua é cultura

Também um exemplo de que a linguagem se reflete diretamente da vivência de um povo é a língua pirahã, falada pelos indígenas pirahã, no Amazonas, a qual não possui vocabulário para cores. Os números também não têm grande utilidade nas aldeias e os objetos são contados entre “poucos” ou “muitos”.

O linguista americano Daniel Everett, estudioso da língua pirahã, defende que a gramática não é inata e biológica, e sim uma ferramenta cultural, que muda a partir das necessidades de cada sociedade.

Outra forma de linguagem, dessa vez mais presente no cotidiano de várias pessoas, é a linguagem de sinais. E mesmo ela varia entre diferentes regiões do globo, dificultando, por exemplo, que brasileiros e americanos se entendam completamente com os sinais. “Os leigos tendem a imaginar que são gestos simplesmente que a gente faz, mas não, são línguas, com a gramática própria, mas que, em vez de usar o veículo sonoro, usa esse veículo visual que são os gestos”, diz o professor. Ele complementa: “Cada país, ou cada região, vai ter sua própria língua de sinais. Não são gestos universais”.

Importante preservar

Souza ainda chama a atenção para a preservação das línguas, principalmente as que estão ameaçadas de extinção. De acordo com ele, é estimado que aproximadamente metade das línguas estejam ameaçadas de deixar de serem faladas até o fim do século 21, fazendo com que todo o conhecimento de mundo que essas línguas carregam sejam perdidos: “Preservar a língua é preservar a cultura e o conhecimento que as pessoas têm do mundo”.


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