Já existiam lições para evitar tragédias antes de Mariana e Brumadinho

Para especialistas, uma sucessão de problemas que poderiam ser evitados culminou com rompimento de barragem

 11/02/2019 - Publicado há 5 anos

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Pouco mais de três anos após o desastre de Mariana, que deixou 19 mortos na cidade mineira, o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG) reativou as discussões sobre a necessidade de medidas preventivas que protejam tanto o meio ambiente quanto as populações que habitam as áreas de extração. Com o intuito de refletir sobre as causas do desastre e a incapacidade de aprendizado frente à reincidência de tragédias evitáveis, o Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP realizará o evento Brumadinho Pós-Mariana: Lições Não Aprendidas, na próxima quinta-feira, às 14 horas. O evento é público e gratuito, sem necessidade de inscrição prévia para participar.

O Jornal da USP no Ar conversou com os professores Pedro Roberto Jacobi, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), coordenador do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, e Enrique Sánchez, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica (Poli) da USP, que estarão presentes na discussão. Jacobi afirma que o rompimento em Brumadinho poderia ter sido evitado considerando os pontos falhos analisados e ocorridos em Mariana. “Se a gente juntar todas as matérias de jornais ao longo deste período, no dia 25, nós, mais uma vez, podemos afirmar que é um desastre anunciado. E mais uma vez se observa que a grande questão é a falta de fiscalização da barragem que, de um lado, provém da associação de verbas para vistoria, e de outro lado, obviamente, a falta de cuidado, a falta de uma preocupação maior com a segurança da barragem por parte da própria empresa. É difícil não falar dos mesmos temas, das mesmas questões.”

O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais no dia 16 de novembro – Foto: Romerito Pontes via Wikimedia Commons / CC BY 2.0

Sánchez, por sua vez, diz que uma sucessão de problemas culminou com o rompimento da barragem. “Em geral, podemos associar isso a muitas causas, que vão desde o projeto, a operação da barragem e um rigor insuficiente na fiscalização, tanto por parte da Agência Nacional de Mineração quanto por parte dos órgãos ambientais”. Professor Sánchez ressalta que o método de construção de barragem por montante, considerado mais simples, mais barato e menos seguro, requer atenção maior da empresa no tocante à operação da barragem quando ativa e depois de seu uso terminado definitivamente. Além do mais, afirma que, antes de Mariana, as lições para se evitar tais tragédias já estavam disponíveis. “Na época do caso da Samarco, uma das perguntas interessantes que me foi feita por um profissional da imprensa foi sobre quais lições deveriam ser aprendidas depois do rompimento daquela barragem. Eu respondi que a lição que deveria ser aprendida eram as lições aprendidas anteriormente e que deveriam ser aplicadas. Já se sabia o que deveria ser feito, quais os principais controles e os riscos.”

A realização da discussão, segundo Jacobi, é um dever da Universidade com a sociedade. “Entendemos que a Universidade tem que se colocar, cada vez mais, nos debates com temas estratégicos, temas fundamentais para a qualidade de vida do cidadão. Para garantir que temas ambientais sejam tratados com profundidade e que não caiam na simplificação das questões.”

Estes e outros pontos serão tratados no evento  Brumadinho Pós-Mariana: Lições Não Aprendidas, com os convidados Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP; Bruno Milanez, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Luis Enrique Sánchez, professor da Escola Politécnica (Poli)) da USP; Ricardo Tichauer, consultor do Ministério de Minas e Energia (MME); Evangelina Vormittag, diretora técnica do Instituto Saúde e Sustentabilidade; e Leandro Luiz Giatti, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O encontro será transmitido ao vivo pelo site do IEA.

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