Com o isolamento social prolongado surgem os conflitos familiares

Condições financeiras e sociais definem formas de enfrentar a pandemia, mas comunicação e planejamento do papel de cada familiar são essenciais para lidar com as diferenças sem sair de casa

 16/06/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 24/06/2020 as 11:57
Por
Desavença – Foto: Виктория Bородинова/Pixabay
Logo da Rádio USP

No dia 24 de março, famílias do Estado de São Paulo começavam o primeiro de muitos dias sem poder sair de casa. Após quase 90 dias de isolamento social, “o que parecia ser a oportunidade ideal para fortalecer relações, em muitas famílias foi um fator para o aparecimento de conflitos”. A afirmação é da psicóloga Carla Guanaes Lorenzi, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

A professora conta que, na maioria dos casos, as desavenças são causadas pelo convívio excessivo e por alterações que antes não estavam previstas na rotina das famílias, como o home office e homeschooling. “Estão acontecendo muitas coisas no ambiente familiar de uma forma muito diferente do que usualmente acontecia. Isso exige uma capacidade de adaptação e flexibilização que muitas vezes não é tão fácil assim de desenvolver.” 

Ainda segundo a professora Carla, os atritos variam de acordo com a singularidade de cada lar e que são as condições financeiras e sociais que definem como será o enfrentamento da pandemia da covid-19. “São fatores que estão além dos individuais e que implicam em diferentes possibilidades de como a família irá passar e enfrentar esta situação de pandemia com um pouco mais de qualidade e de saúde mental”, afirma. 

A comunicação e o planejamento dos papéis que cada membro da família desempenha neste novo momento “são ferramentas essenciais para lidar com as diferenças sem sair de casa”, afirma a professora. Além disso, recomenda que rotinas com boa alimentação, sono e práticas de exercícios sejam mantidas, assim como o contato, mesmo que virtual, com amigos e colegas de trabalho. “O contato com outras pessoas pode ajudar a conversar sobre situações desafiadoras. Compreender que muitas pessoas podem estar passando por situações semelhantes pode ajudar a dar uma dimensão do quanto o problema que vivemos pode ser similar ao de outras pessoas.”

Carla diz que é muito comum experimentar sentimentos de angústia, medo e ansiedade em momentos como este e que muitos serviços estão preparados para o atendimento on-line daqueles que precisarem de ajuda psicológica. “A pandemia vai passar, mas as relações familiares permanecerão. Elas podem sair ainda mais fortalecidas deste período”, finaliza. 

(Informações atualizadas em 24.06)


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.