Em continuidade ao Ciclo UrbanSus do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o Seminário sobre Ética Socioambiental promove diálogos e reúne experiências sobre o assunto, trazendo à luz temas como ética na ciência e na tecnologia, justiça ambiental, equidade e sustentabilidade. O propósito é contribuir para maior compreensão e propagação da temática da sustentabilidade entre academia, sociedade e setor público, como estímulo à construção de uma cultura da sustentabilidade aliada à ética socioambiental. O Jornal da USP no Ar conversou com Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências (IB) da USP e coordenador do Programa Cidades Globais do IEA, e com Luciano Felix Florit, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sobre a importância da reflexão ética em questões ambientais.
A ética socioambiental está conectada aos problemas de ordem ambiental que o País enfrenta, sobretudo, no momento atual. Para Buckeridge, o cenário é de retrocesso. No início do século XX, os estudos de ecologia começaram a ganhar maior congruência. “Várias descobertas levaram o mundo a uma conscientização que o meio ambiente existe. E que ele nos influencia”, expõe o professor. Todo acúmulo gerado através dessas descobertas pode ser comparado à Revolução Copernicana. Do mesmo modo que Nicolau Copérnico evidenciou que a Terra não é o centro do universo, os estudos de ecologia mostraram que “o homem não é o centro do meio ambiente, mas, sim, uma parte dele.”

Apesar das evidências científicas, a defesa do meio ambiente foi gradativamente colocada dentro de um contexto político por diferentes grupos, expõe Buckeridge. “Enquanto a ciência vai avançando, compreendendo que o homem faz parte de uma rede de interações e que, alterando o ambiente, altera-se o bem-estar do homem, alguns grupos começam a pensar que isso poderia se tornar uma ação ativista”, ou melhor, um problema a ser combatido. Foi justamente isso que o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, fez na década de 1980, relembra Buckeridge. A narrativa construída por Reagan associava a preocupação ambiental com grupos de esquerda. Exatamente o que está acontecendo no Brasil, comenta o diretor do IB.
Para Luciano Felix Florit, os avanços no campo da ecologia podem ser interpretados como uma revolução, contudo, ela nem sempre se traduz em ações práticas. Cabe à ética socioambiental debruçar-se sobre essas questões, com enfoque em dois campos: iniquidade social nas questões ambientais, ou seja, o não cumprimento de leis e normas, e a maneira como os seres vivos não humanos são tratados. Segundo Florit, há grandes controvérsias sobre essas temáticas e a reflexão é o caminho para enfrentá-las.
Por fim, o professor Buckeridge reforça a importância de reparar o conhecimento científico da maneira como grupos políticos trabalham com ele. Florit acrescenta que os argumentos são a chave para a resolução, mas que o poder costuma negá-los. “Não é um caminho fácil”, enfatiza o sociólogo.
Corpo e Movimento
A coluna Corpo e Movimento, com o professor José Carlos Farah, vai ao ar quinzenalmente terça-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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