Infecções bacterianas ainda estão entre as doenças que mais matam no mundo

Os números apontam a gravidade da situação: 13,6% de todas as mortes em 2019, em todo o planeta, foram causadas por bactérias. Causas vão desde hábitos pessoais à falta de leitos de UTI

 19/12/2022 - Publicado há 1 ano
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O número elevado de mortes tem a ver com as características replicativas das bactérias  Foto: Reprodução/Freepik

 

Pesquisa publicada na revista científica The Lancet, em novembro, demonstrou que mortes por infecção bacteriana ainda despontam como a segunda principal causa de morte no mundo. Em 2019, estima-se que ocorreram 13,7 milhões de mortes relacionadas com infecções. Mas o maior problema não mora aí: dessas, mais da metade foram causadas por apenas 33 patógenos. 

Isso significa que 13,6% de todas as mortes em 2019 foram causadas por essas bactérias e, dentre essas, apenas cinco delas causaram quase metade de todas as mortes por bactérias investigadas. Elas também são responsáveis por 56,2% de todas as mortes relacionadas à sepse. 

Valéria Cassettari – Foto: Instituto Ghelman

“As doenças infecciosas eram a principal causa de morte no mundo todo no início do século passado e isso foi se transformando em virtude das melhorias sanitárias, como o tratamento de água e esgoto, o controle da qualidade da produção dos alimentos e também o advento das vacinas e o desenvolvimento dos antibióticos, que passaram a ser produzidos em grande escala na década de 40”, diz Valéria Cassettari, médica infectologista e coordenadora do Controle de Infecções Hospitalares do Hospital Universitário. 

Por que ainda tantos morrem?

O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, explica que o número elevado de mortes tem a ver com as características replicativas das bactérias. “Algumas bactérias, de modo geral, e alguns protozoários replicam muito rapidamente. Mais rápido e mais fatal, na maior parte das vezes”, diz. 

Marcos Boulos – Foto: Secretaria de Estado da Saúde

Mesmo com esse avanço, as fatalidades poderiam ser bem menores. Dentre as causas para o ainda alto número de mortes por infecções bacterianas, destaca-se o atendimento tardio, diagnóstico não específico, maus hábitos alimentares e fragilidades de saúde, que implica na piora do quadro caso haja uma bactéria. 

Valéria lembra também que, entre os patógenos que mais matam, dois deles, Staphylococcus aureus e Escherichia coli, estão entre os microrganismos que naturalmente habitam o corpo humano. “São bactérias que estão presentes no nosso organismo como colonizantes na pele e no trato gastrointestinal. Em algum momento ocorre uma fragilidade das nossas defesas e elas acabam causando doenças”, diz.

 

Staphylococcus aureus e  Escherichia coli – Fotos: Scientific Animations; NIAID/Wikimedia Commons

 

Nilton Erbet Lincopan Huenuman – Foto: Currículo Lattes

Não é difícil adquirir uma dessas bactérias, mas é complicado tratá-las. Por isso, apresentam-se como um problema mundial de saúde pública. Nilton Erbet Lincopan Huenuman, professor livre-docente do Departamento de Microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ressalta que muitas vezes as infecções são tratadas “empiricamente”, ou seja, um só protocolo é aplicado independentemente de exames certeiros ou bactérias diferentes. Isso pode levar à morte o paciente que não recebeu o tratamento adequado.  

Problemas no sistema de saúde

Outro aspecto revelado pelo estudo é que países com uma maior renda per capita registraram as menores taxas de morte por infecções bacterianas, enquanto regiões com menores rendas foram as mais afetadas. Um exemplo é a região da África Subsaariana. Isso mostra a importância de um tratamento eficaz e de qualidade dentro de facilidades médicas públicas e privadas. 

“Os maiores desafios do sistema de saúde para o atendimento adequado às doenças bacterianas são, em primeiro lugar, disponibilidade de equipe capacitada em número suficiente de profissionais para atendimento nos serviços de urgência, para que o diagnóstico seja feito rapidamente e com precisão”, pontua Valéria.

Exames de cultura de sangue e de urina, por exemplo, também estão entre os desafios: muitas vezes não há como fazer. Além disso, depois de coletados, devem ir a bons laboratórios para que um diagnóstico certeiro possa ser feito bem como a identificação correta das resistências a antibióticos. Por fim, a infectologista lembra que muitos pacientes com infecções necessitam de cirurgias de urgência, medicamentos vasoativos e monitoramento 24 horas por dia: “Nós temos esse problema que é uma carência permanente de leitos de UTI”.

 

É de extrema importância procurar por atendimento médico assim que sintomas de infecção aparecerem  Foto: stefamerpik/Freepik

 

Cuidados

Por isso, é de extrema importância procurar por atendimento médico assim que sintomas de infecção aparecerem. Eles são: tosse, espirro, febre, inflamação, catarro, fadiga, entre outros. Boulos ainda lembra que hábitos saudáveis de alimentação são fundamentais para que as bactérias, principalmente as oportunistas, não encontrem terreno fértil para sua replicação.  

Divulgação

Um curso para capacitar professores de ensino médio sobre resistência bacteriana aos antibióticos está sendo organizado por Valéria e Lincopan, uma parceria entre o Hospital Universitário e o Instituto de Biomédicas II. O curso será presencial, com seis aulas teóricas e duas aulas práticas em laboratório, e acontece do dia 3 a 25 de março de 2023: às sextas, as aulas vão das 19h às 21h e, aos sábados, das 9h às 11h. A parte teórica será no Hospital Universitário da USP e a prática será no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

As inscrições estão abertas até o dia 17 de fevereiro. Basta preencher o formulário de inscrição e enviar o comprovante de professor de ensino médio com especificação da disciplina ministrada para o e-mail cecex@hu.usp.br.


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