Seria a indiferença o grande mal contemporâneo? É o que se pode depreender a partir do último filme de Lars von Trier, A Casa que Jack Construiu, que gerou indignação quando de sua exibição em Cannes por causa do alegado excesso de violência gratuita. Segundo a professora Marília Fiorillo, o filme é violento, mas não tanto quanto o de qualquer série B, e infinitamente menos chocante do que se constata diariamente em locais como o Iêmen ou Myanmar. E o curioso é que o filme não é sobre violência, e sim sobre indiferença. “A indiferença crescente dos privilegiados contra os menos, a de um grupo, país ou etnia sobre o destino de outros e a indiferença dos que deveriam promover a paz.”
O tema do filme, diz a colunista, é o atual reinado da amoralidade, a vitória do cinismo e a naturalização da crueldade. “Ele capta genialmente o novo normal, o espírito do nosso tempo”, do qual não faltam exemplos por aí, como se viu no recente assassinato e esquartejamento do jornalista saudita em pleno consulado da Arábia Saudita, na Turquia. Mais um exemplo, como tantos outros, a ilustrar a ausência de culpa, o descaso pela vida, o desprezo da humanidade pelos homens. “Como no filme, trata-se da glorificação da vulgaridade, seja na banalização do sadismo ou na trivialidade do horror.” Para a professora Marília, “a casa de Jack” já está construída por toda parte, “em sua esmerada arquitetura de mortos e obscena indiferença aos vivos”.
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